Eu nasci em 1982, num país tropical, abençoado por Deus, bonito por natureza, verde e amarelo, com muito samba no pé e futebol nas veias.
Sou de uma família grande, com muitos tios, primos, irmãos e etc; onde todo mundo se reúne sempre que dá e onde um churrasco aos domingos com futebol é indispensável.
Na minha família tem são paulinos (Salve, Salve meu tricolor!), corinthianos, palmeirenses, vascaínos, santistas e torcedores de quase todos os times do Brasil, já que a família não é só de Sampa. Faço parte daquele povo que está com o seu time na saúde e na doença, onde quem torce pode falar mal mas quem não torce, melhor que fique na sua, sabe como é?
Meus amigos possuem camisas de seus times e os que são pais, compram bolas para os seus filhos antes mesmo de aprenderem a andar.
Um dos momentos mais felizes da minha infância era a chegada da Copa, quando toda essa galera se reunia para pintar as ruas, decorar as casas de verde e amarelo, colocavam bandeirinhas nas ruas, pintavam a cara com tinta guache com as cores do Brasil (e ninguém tinha alergia não), chamavam os vizinhos para ver os jogos…
A casa ficava numa alegria que nem o natal conseguia representar. Porque o natal é mágico para quem tem família e uma crença, mas para ser feliz na Copa, basta ter um coração que vibra.
Na Copa não existem times. Existem brasileiros torcendo pelo seu país. É a única oportunidade em que se pode falar de futebol sem brigas. É a única vez em que ninguém liga de emprestar o seu melhor jogador para a seleção. É a chance de reviver o conceito de unidade que o dia a dia muitas vezes não permite.
Na primeira vez em que a Copa do Mundo foi realizada no Brasil, eu nem era nascida e agora que ela será no meu país que tanto amo, eu não moro mais lá.
Estou de longe, mas estou acompanhando tudo. Me faz falta aquela alegria brasileira e aquele amor pelo futebol que só o brasileiro tem e que todo estrangeiro reconhece.
Percebi que faço parte de uma geração que aprendeu a lutar pelos seus direitos, que já não engole toda a corrupção que o nosso governo insiste em esfregar na nossa cara diariamente. E isso é maravilhoso. É saudável. É um direito. É maturidade. Mas é tudo muito pouco coerente se não soubermos separar as coisas. Vou dar um exemplo da minha vida pessoal para que entendam o que quero dizer.
Quem acompanha o blog sabe que já fui casada antes e que o meu divórcio me causou um bocado de sofrimento. E enquanto eu tentava administrar toda aquela dor, a vida das pessoas ao meu redor seguia normal. Nesse mesmo período eu fui convidada para várias festas de casamento. Algumas eu não fui. Eu não tinha estrutura emocional para vivenciar algo que já não era uma verdade na minha vida. Em outras eu fui mas com um sentimento muito ruim. Enquanto a festa rolava com muita alegria e gente dançando na pista, eu ficava na mesa pensando: “Quanta ingenuidade a desse povo… Mas tudo bem, ainda é começo. No começo é tudo lindo. Quero ver daqui há uns anos. Todos aqui vão se lembrar de mim.”
E se lembraram mesmo, mas como uma pessoa amargurada que não soube separar a sua decepção da festa tão bonita que rolava ali. As minhas decepções amorosas naquele momento eram muito verdadeiras e tinham motivos justos para sangrarem com tanta força dentro de mim mas elas em nada poderiam mudar o fato de que um casamento sempre será a celebração do amor, sempre será um motivo de festa e que sempre se pode sorrir com o outro e pelo outro enquanto as coisas vão tentanto voltar ao seu lugar.
Eu não vim aqui falar de política. Eu não vim aqui dizer que a revolta brasileira não tem fundamento, porque eu tenho certeza que tem. Eu não vim aqui dizer que porque eu moro em outro país já não me afeta o que acontece de ruim no Brasil, até porque isso não é uma verdade. Eu ainda pago impostos no Brasil, pago contas lá, tenho família lá e estarei sempre ligada a ele pelo simples motivo de ter nascido nele e porque em qualquer lugar do mundo sempre serei uma estrangeira e nunca a prata da casa. Então, eu não sou uma alienada e muito menos negligente ao que está acontecendo.
Eu só vim aqui pra dizer que na minha casa vai ter Copa sim. Eu quero reviver a alegria do meu povo e a maneira como ele vibra com esse esporte, como ninguém. Eu quero chamar os meus amigos chilenos para ver os jogos da verde e amarelo do meu sofá, e dizer com orgulho ainda que o Brasil perca, que essa é a minha seleção. Que esse povo na arquibancada do estádio é o meu povo e que eu me orgulho de ter o mesmo sangue que eles.
Eu quero curtir essa festa como algo único e muito feliz. Não quero ter a sensação de que o mundo está em festa e que eu estou como na festa de casamento dos meus amigos: na mesa, praguejando, enquanto todo mundo aproveita a única coisa que é certa: o presente.
Na minha casa vai ter Copa sim e já tem até decoração. Porque os meus problemas me mostraram que devemos dar um rumo diferente para a nossa vida e para o que está errado mas sem deixar de viver e de ser o que realmente somos. E se somos brasileiros, somos torcedores. Com toda a força que isso implica. Mas é claro que você não precisa torcer se não está no clima. É compreensível também. Só não pode condenar quem quer viver essa festa. Viver a festa não faz de ninguém menos cidadão.
Vai ter copa na minha casa sim. O que não vai ter, no que depender de mim, é esse governo no poder outra vez. A minha revolta estará refletida no lugar em que realmente isso faz sentido: nas urnas.
É taça na raça, Brasil!
*Foto: Arquivo Pessoal
arrasou Fê! falou tudo… e bora Brasil!
Boraaaa! :)
Oi Fê, tudo bom? Estarei em Santiago na época da Copa do Mundo, alguma dica de onde assistir aos jogos??
Muito Obrigada! Beijinhos
Ixxi, Vanessa, vai ter que ser na sorte. Por aqui, somente a DirecTV tem a permissão de passar todos os jogos da Copa. Na TV aberta você só vai ver jogos do Chile. Precisa procurar bares que tenham DirecTV. Bjs