Desde que saí do Brasil há quase uma década, é que me perguntam diariamente do que sinto mais falta e é bem curioso ver que minha resposta deixa muita gente com cara de surpresa.
É que tirando a família e amigos – a saudade que todo mundo sempre vai sentir – eu não sinto falta das coisas que geralmente as pessoas sentem.
Cresci em uma família que sempre estimulou a independência e onde refazer a vida era algo bem comum a cada 3 ou 6 anos, já que devido ao trabalho dos meus pais nós mudávamos de bairro ou de cidade frequentemente. Sendo assim, não se apegar muito a casa em que vivíamos, mudar de escola, estar pronta para fazer novos amigos e se acostumar com despedidas, era parte da rotina; o que não me tornou em nada insensível mas me ensinou a ser forte.
Aos 15 anos eu fui morar sozinha (quer dizer, com amigas da mesma idade) e em outra cidade, já que era um colégio bem melhor do que aquele bem pertinho de casa. Sabe aquela vida de “república” que a maioria conhece quando entra na faculdade? Eu vivi algo parecido só que com 15 anos. Foi uma das experiências mais incríveis que já vivi porque me amadureceu e me preparou para morar fora. Acredito que por isso eu também não sou aquela brasileira no exterior que faz planos contando com a presença ou ajuda de alguém como a maioria das minhas amigas no exterior que planejam a gravidez para uma época em que suas mães possam se ausentar do trabalho e passar uma temporada com elas ou que deixam de ir à algum lugar (academia, balada, evento, etc) por não ter companhia. Veja bem, não estou dizendo que isso é errado e que eu não sinto falta de dividir a vida com as pessoas que ficaram no Brasil. Estou dizendo que desde jovem eu fui ensinada e estimulada – dada às circunstâncias – a conviver com distâncias físicas e se eu ficasse presa a esse fator, minha vida não avançaria.
Por mudar tantas vezes mas principalmente por crescer em uma família que sempre ensinou que com legumes, verduras, frutas e castanhas é possível morar em qualquer lugar do mundo, eu também não sinto falta da comida brasileira. Aqui vale um esclarecimento também: não é que eu não goste, eu acho nossa comida uma das melhores do mundo tanto em variedade como em sabor, porém eu consigo passar meses sem feijão, tapioca, farofa e etc; porque durante toda a minha vida a base da minha alimentação vinha de alimentos universais. Com certeza eu como tudo o que posso da nossa comida típica quando vou ao Brasil mas raramente trago algo na mala quando volto pra casa porque depois de quase uma década fora, estou super adaptada à culinária local. E fora isso, eu não sou vidrada em nenhum alimento específico apesar de ser daquelas pessoas que ama comer. O que eu gosto mesmo é da experiência por trás da comida: uma mesa cheia de gente conversando, saboreando alimentos que tem a ver com aquela realidade. Particularmente, quando eu como uma comida brasileira fora do contexto Brasil, eu não sinto o mesmo sabor. É como se faltasse aquela pitada de gente falando alto, falando com as mãos, um toque de sol, uma porção de música brasileira ao fundo… Entende o que quero dizer?
Às vezes, nos dias mais nostálgicos, bate uma saudade de determinados lugares do Brasil mas nada que tire o meu sono ou que não me faça aproveitar os locais por onde passo diariamente hoje. Nenhuma lembrança ou local do Brasil persegue minha mente a ponto de diariamente levar meu cérebro a viver de comparação.
Então, como você pode ver, eu não sou uma brasileira no exterior com saudades diárias de coisas que a maioria sente falta. Definitivamente não. E não sou melhor ou pior que outros brasileiros por isso, apenas acho que a ausência dessas saudades facilitou a minha adaptação.
Mas tem uma coisa que todo dia eu desejo, que todo dia eu penso, que todo dia eu espero. Tem uma coisa que quando não aparece me deixa triste – sim, triste é a palavra. Tem uma coisa que virou raridade nos meus dias depois de morar fora e essa sim ocupa um espaço na minha mente que comida típica, lugares e situações não conseguiram ocupar. Se chama SOL.
Só sabe dar valor ao sol quem deixou de morar em um país tropical. Vou ser sincera: não sinto falta de suor, de mormaço, daquele calor que mais parece uma prévia do inferno hahaha. Mas eu sinto falta de dias iluminados.
No Chile, temperaturas amenas e geladas estão presentes ao menos 8 ou 9 meses do ano em todo o país. O outono começa em abril com temperaturas que em muitas cidades do Brasil já podem ser consideradas como inverno. Logo vem um inverno que de brinde traz o ar gelado da neve. Em seguida a primavera, que quando começa a ser agradável já é novembro. Se você considerar que tem apenas 3 meses de verdade para viver o sol com toda a sua plenitude, é pouco. Não é toa que os chilenos em massa tiram férias em fevereiro, uma das últimas oportunidades de viver o verão e dias de sol verdadeiro, nada de sol “meia boca”.
Sabe por que o brasileiro é considerado uma pessoa feliz? Porque é de origem tropical. O sol tem grande influência na nossa energia e humor por mais que você ache que o calor excessivo não anima ninguém. É por isso que em países de inverno agressivo há mais casos de suicídio e depressão. São pessoas com menor exposição ao sol e por isso contam com menos vitamina D que a gente.
O sol (não a sauna rs) é sim a única coisa (tirando a família) que eu sinto falta todos os dias e quando ele dá as caras eu comemoro, meu look fica radiante, coloco o batom mais colorido que eu tenho, dou mais risadas, tenho mais vontade de sair, de planejar, de correr atrás dos meus sonhos.
Sou feliz por viver em um país que me permite entre tantas coisas, conhecer de perto as mudanças de cada estação do ano. Mas eu seria ainda mais feliz se o sol fosse rotina. Ahhhh seria…
Preciso de você aqui.
Ô sol vê se enriquece a minha melanina,
Só você me faz sorrir…”