Números não dizem nada

Há duas semanas atrás voltei na nutricionista para uma avaliação da minha reeducação alimentar, ou seja, para ver se eu realmente estava fazendo tudo certinho no que corresponde a comer saudável, sem neuras e ajudando o corpo a acelerar o metabolismo. Também fiz uma avaliação na academia para ver se já podia intensificar o treino e corrigir o que tivesse errado. Essas coisas de rotina que toda pessoa que passa a se dedicar mais a cuidar da saúde, precisa fazer.

Fui parabenizada por ter perdido os 15 quilos que precisava desde que comecei o #desembucha e também por ter deixado no passado o sedentarismo, mas ainda assim precisei mudar alguns hábitos na minha alimentação e nos treinos para estimular o ganho de massa magra.

E aí você deve pensar: Mas perder os 15 quilos de sobrepeso não é o suficiente? Não vai ficar magra demais se continuar malhando ou mudando coisas na alimentação? Será que já não virou uma neurose? 

Pois é, eu também fiquei pensando tudo isso quando fiz as avaliações. Na minha cabeça, emagrecer bastava. Voltar ao meu peso bastava. Para mim, até essa consulta, eu tinha alcançado a minha meta e se for parar pra pensar, eu alcancei mesmo. Mas a explicação que veio depois foi praticamente uma aula para me convencer de que emagrecer é só uma parte da meta e que manter o peso com saúde, é o mais necessário nisso tudo.

Resolvi dividir com vocês o meu aprendizado deste dia porque eu sei que tem muita gente preocupada em emagrecer e em ter qualidade de vida mas que acaba ficando perdida com tantos números que são colocados diante de nós diariamente.

Toda celebridade quando é elogiada pelo seu corpo e por suas formas, veste 36 e no máximo 38. Na maioria das vezes, as roupas que você mais gosta em uma loja estão acima da numeração 40, onde sutilmente a vendedora te diz que é uma numeração para quem está acima do peso. 90% das pessoas se pesam diariamente e se frustram quando depois de muito esforço, a balança mostra alguns quilos ou gramas a mais.

Mas afinal, o que os números na balança querem dizer? Qual a diferença entre massa magra e massa muscular? Quando é o momento de “parar” de controlar o peso?

Vou tentar sem bem didática.  O corpo humano é composto por dois compartimentos básicos: um de gordura e outro livre de gordura. O compartimento da gordura corresponde à massa gorda propriamente dita. O compartimento ausente de gordura é a massa magra.

Do que é constituída a massa magra?

De massa muscular, massa óssea, sangue, pele, órgãos e tudo o que sobrou. Então, quando te dizem que você precisa aumentar a sua massa magra na academia, querem te dizer que você precisa aumentar a sua massa muscular, sua massa óssea e o seu volume sanguíneo. Ou seja: não é só músculo não.

Como conseguir massa magra?

Só existem dois caminhos: alimentação adequada e exercícios físicos. A alimentação é o combustível que a sua atividade física precisa. Massa magra não se forma apenas com atividade física e muito menos com dieta super restrita. A dieta ideal para isso é a que combina nutrientes com energia. Quem segue o cardápio #desembucha pode ficar feliz porque ele tem as duas coisas, diariamente. A alimentação adequada vai fazer o seu metabolismo equilibrar e com isso seus treinos terão resultados mais positivos. Um erro bem comum e já mencionado aqui, é eliminar os carboidratos porque eles fornecem energia imediata, que resulta em massa magra e a médio prazo, elimina a massa gorda. O excesso de proteína também é uma lenda. É óbvio que ela ajuda na formação dos músculos, mas não quando ingerida em excesso. O segredo está no equilíbrio.

De quanto em quanto tempo devo me pesar?

Uma vez por semana. Toda dieta saudável tem a intenção de te fazer perder 1 ou 2 kg por semana, logo, se pesar diariamente é um erro, além de causar frustração e desânimo para continuar.

Posso me pesar em qualquer balança? Tem variação?

O ideal é ter a própria balança e se pesar em casa porque a regulagem das balanças varia de uma para outra. Balança é igual a relógio: todos tem a função de mostrar as horas mas nem todos marcam sempre a mesma hora.  Pesar-se em diferentes balanças pode mostrar diferentes resultados.

Qual é o melhor horário para se pesar?

De manhã porque o corpo tem menos líquido acumulado no organismo, a digestão já foi feita durante a noite e você tem o peso real ao poder se pesar sem roupa.

Quando devo duvidar do peso que a balança me mostra?

Quando você se pesa durante ou um pouco antes da menstruação (nesse período a mulher retém muito líquido), quando você se pesa de manhã após ter jantado comidas pesadas ou muito condimentadas, ou ter ingerido bebida alcóolica, quando você se pesa em um período que o seu intestino não está regularizado, quando você se pesa após transpirar demais (é óbvio que perdemos calorias ao transpirar mas na primeira oportunidade de matar a sede, o peso volta ao normal) e também quando você se pesa após ter iniciado uma atividade  física que acelera os músculos. Nesse período eles ficam rijos porque você está deixando de ficar flácido mas ainda não quer dizer que perdeu peso. Espere o treino regularizar o corpo e se pese. Isso leva um tempo.

Então quer dizer que se já perdi os quilos necessários não significa que já eliminei a gordura ruim do meu corpo?

Exatamente! E é exatamente isso o que aconteceu comigo. Eu perdi os 15 quilos que precisava mas ainda tenho massa gorda dentro de mim. Essa massa gorda já não interfere na minha numeração de roupa. Eu consegui voltar a usar as roupas que não me serviam mais e já me sinto feliz por ter conseguido recuperar a minha autoestima e qualidade de vida, mas isso não quer dizer que essa massa gorda me faça bem ficando aí, paradinha no meu corpo. O ideal é me preocupar em transformá-la em massa magra que vai me ajudar a perder a flacidez e transformar tudo isso em músculos. E quando digo músculos, não me refiro a ficar bombada (aliás, muitas mulheres não fazem musculação por acreditarem nessa lenda mas a verdade é que não funciona assim. Não com as mulheres), mas a ficar definida e melhorar a minha resistência e saúde.

Em outras palavras, minha nutricionista quis me dizer o que muita gente já sabe mas que poucos acreditam: números não querem dizer nada, ou pelo menos, nada do que a gente imagina. Eu posso ter 60 quilos, ter manequim 60 – 90 – 60 e ter mais gordura ruim do que uma pessoa com muito mais peso do que isso. Eu posso usar uma calça 42 e ser magra porque a minha altura, ainda que no peso ideal e o meu porte físico, jamais me permitirão usar uma calça 36 ou 38. Eu posso ser gordinha e ainda assim ter exames mais saudáveis do que uma pessoa magra. Eu posso ser gordinha e ter a autoestima inabalável. Eu posso ser gordinha e queimar a gordura ruim com mais facilidade do que um magro.

No fundo, a questão é exatamente essa: poder. Não se impressione pelos padrões da mídia ou por aquele corpo que você deseja ter. Percorra caminhos saudáveis para atingir os números ideais para o seu corpo, para a sua saúde e para a sua autoestima. Você só pode viver a sua vida e ter controle sobre o seu corpo. Qualquer expectativa ou controle que você cria sobre o corpo alheio, é pura ilusão.

Vamos parar de olhar as fotos dos perfis que amamos no instagram com olhos de julgamento ou com olhos de médicos ou até mesmo com olhos de quem pode opinar sobre o biotipo de alguém. Vamos ser mais leves. De alma mesmo. E a gente começa isso jogando todos os estereótipos no lixo.

Meu convite hoje é pra que a gente viva feliz. Sem pressões. Sem ilusões. Com os dois pés na realidade. Porque a realidade pode ser bonita, saudável e mais humana. O autoconhecimento pode me ajudar a entender que eu não preciso ser a cópia do biotipo de fulano para ser bonito ou saudável. A única maneira de ser feliz consigo mesmo é entender que você tem um corpo, com características próprias, que não podem ser comparadas ao corpo de mais ninguém. E mais: que aprendamos a usar o que nos faz sentir bem. Todo o resto é comércio.

Não sei como os homens lidam com isso mas para nós mulheres, é ainda mais difícil e eu me incluo nisso. Mas fica aqui o meu desejo, pra vocês e pra mim: viver leve para si mesmo, sem nos comparar a nada ou a ninguém.