Esse post deve estar nos rascunhos do blog há pelo menos 2 anos. Já foi escrito e reescrito muitas vezes, assim como muitas vezes coloquei o mouse sobre o botão publicar e desisti.
Desisti porque nunca a internet despertou tanta intolerância como em nossos dias. Eu trabalho escrevendo para blogs de diferentes segmentos além do Pigmento F, sou gestora de redes socias e publicitária, o que me obriga a estar sempre on line mas para que eu continue gostando do meu trabalho, me dou 1 dia na semana de jejum virtual porque às vezes eu preciso me afastar da internet para continuar acreditando no ser humano. É tanto comentário mesquinho, pequeno, maldoso… Às vezes me dá a sensação de que falta noção e sobra gente.
Por isso este post foi tantas vezes adiado, porque eu sei que de alguma forma ele pode despertar todas essas coisas ruins que já mencionei, inclusive aquela pergunta clássica: “Mas por que cria um blog se não está disposta a ouvir a verdade?”
É que a verdade nunca foi tão relativa como depois dos meios virtuais e nunca foi tão desrespeitosa também. O fato de ter um blog não me obriga a ler ofensas disfarçadas de “críticas construtivas”, porém, a falta de educação de tantos não pode calar o meu desabafo sincero, triste, envergonhado mas que vem de um coração que ama e que sinceramente ainda quer acreditar que isso pode ter solução e por isso eu vou falar.
Há quase 5 anos eu me mudei para Santiago no Chile. Nunca planejei morar fora do Brasil. A ideia sempre me despertou curiosidade porque amo conhecer novas culturas e me lançar em desafios mas eu realmente nunca planejei uma mudança de país. Ela aconteceu devido a uma oportunidade de trabalho que o meu marido recebeu e que meses depois eu também consegui.
Tirando toda a fase de adaptação que existe por trás dessa decisão, nunca escondi o fato de ter adorado a experiência e de amar morar aqui, assim como nunca escondi a saudade que sinto de casa, de São Paulo – minha cidade tão caóticamente sensacional – da minha família, dos meus amigos, daquele clima tropical que parece transbordar alegria no sangue brasileiro e daquele sentimento de fazer parte de algo sem precisar de traduções, que você só sente quando está no seu país por mais que ame morar em outro.
Sim, eu amo as oportunidades que o Chile me deu e que Santiago me oferece, não apenas no meu trabalho mas nesse desafio gigante que é viver em outra cultura. Eu realmente sou grata por tudo o que Deus me deu, por cada porta, por menor que seja, que se abre diante de mim em qualquer lugar do mundo, como as que me foram abertas também quando morava no Brasil. E acho que um coração grato muda tudo. Muda a maneira como encaramos as diferenças. Muda a maneira como conversamos com as pessoas, como nos referimos a elas, como lidamos com aquilo que não nos pertence mas que realmente nos deu uma nova forma de viver e toda mudança sempre é positiva. SEMPRE.
O que tudo isso tem a ver com o título desse post?
Pois é, eu gostaria que o título fosse outro mas esse é o único que realmente expressa o que o sinto algumas vezes.
Nesses meus 3 anos de Pigmento F, eu já li coisas maravilhosas em comentários e outras que eu realmente não gostaria nem de ter imaginado.
Se você me perguntar se eu tive problemas para me relacionar com os chilenos desde que cheguei, a resposta é simples: não, não tive. Isso quer dizer que é um povo perfeito? Não, quer apenas dizer algo que não aconteceu comigo: realmente nunca tive problemas de relacionamento com eles, sempre foram super educados comigo, grande parte do meu grupo de relacionamentos é formado por chilenos e tenho por cada um deles o mesmo carinho que tenho por qualquer brasileiro ou pessoa que me conquista pelo seu lado generoso, educado e gentil.
Porém, nunca tive tanto problema com brasileiros como quando resolvi mudar de país. Não é uma unanimidade mas é comum encontrar brasileiros por aqui que detestaram mudar de país. Mais do que isso, que detestam o convívio com os chilenos. Imagino que todos tenham as suas razões. Como eu sempre digo, tudo o que eu falo no blog tem o meu ponto de vista e eu não posso esperar que todas as pessoas pensem como eu sobre a mesma coisa.
No entanto, sair por aí como uma metralhadora ofendendo quem tem uma visão diferente de você, não me parece nem educado e nem lógico. Tem muito brasileiro vivendo aqui que se incomoda com os brasileiros que não tem nada de mal para dizer da cultura chilena ou que aprenderam a conviver com as diferenças. Tem brasileiro frustrado pela decisão que tomou – e isso com certeza deve ter justificativas plausíveis – e que acha que a sua frustração deve ser algo que todo expatriado deve sentir e não apenas ele. Chega a ser infantil e egoísta.
Então eu tenho vergonha e tristeza quando leio certas coisas por aí.
Eu tenho vergonha de quem tenta fazer com que todo mundo não goste só porque ele não gosta.
Eu tenho vergonha e uma profunda tristeza de alguns brasileiros que possuem agências de turismo em Santiago e que por várias maneiras me ameaçam quase que semanalmente, porque segundo eles, meu blog estimula os turistas a não contratarem os seus serviços.
Eu tenho vergonha dos brasileiros que ao ver outro brasileiro passeando por aqui diz que ele escolheu um péssimo lugar para conhecer. Me lembra aquela pessoa frustrada com relacionamentos e que a primeira coisa que diz a quem está feliz no amor ou no casamento é que logo vai se ferrar também. A necessidade de não ser o único amargo, sabe?
Eu tenho vergonha dos compatriotas que veem outros brasileiros morando no mesmo país que ele escolheu pra viver, como concorrência, como um exército adversário que precisa ser exterminado.
Eu tenho vergonha quando encontro um brasileiro nas ruas de Santiago gritando aos 4 ventos o quanto odeia o Chile e os chilenos e meia hora depois – com toda a sua incoerência – está dizendo o quanto a sua qualidade de vida melhorou.
Eu tenho vergonha de quem não está obrigado a continuar vivendo aqui e ainda assim não volta para o país que diz tanto amar.
Eu tenho uma profunda tristeza em dizer que muitas vezes prefiro lidar com as diferenças culturais dos chilenos e de outros estrangeiros que conheci neste país (tem gente de todo canto do mundo morando aqui) do que tentar ficar amiga de um brasileiro que veio morar aqui. É como se muitas vezes eu conseguisse ser mais feliz driblando mundos diferentes do que as barreiras que um compatriota impõe nos relacionamentos quando te conhece fora do Brasil.
Pra você que foi morar em algum país, qualquer um, e não gostou; sinta-se normal. Esse é apenas um dos riscos que corremos ao decidir fazer uma vida no exterior. O ponto ao qual quero chegar aqui não é a sua obrigatoriedade em gostar mas o quanto não faz sentido querer que ninguém que optou pelo mesmo país, também não goste só porque você não gostou ou tratar com indiferença ou maldade quem claramente faz mais parte do seu povo do que os nativos desse país onde você escolheu viver. Pode até parecer maluco pra você mas também é bem possível se adaptar e em muitos pontos até se encontrar em outra cultura, sem que isso pareça um crime contra as suas origens ou história de contos de fadas. E mais: nunca se esqueça que sempre se pode voltar ao país de origem ou tentar a vida em outro país. Não é vergonhoso admitir que não gostou e é mais eficiente mudar de cenário do que querer que todo um país, que nem é o seu, se adapte a você.
Termino esse post reforçando o meu grande amor pelo Brasil, pela minha gente, pelos que formaram o meu sangue mas também o meu amor e a minha gratidão pelo Chile que me recebeu, que me permitiu conhecer um mundo novo, que trabalhou a minha tolerância, que me ensinou o quanto as diferenças podem ser saudáveis para a construção de quem somos como pessoas e que dia a dia me confirma que nem sempre vamos pensar da mesma forma mas que podemos apenas ser gratos e ter uma postura gentil, educada e amável com qualquer um; independente das nossas divergências.
Quero crer que os comentários serão positivos mas os que não forem, não serão aceitos. A ideia não é disseminar ainda mais o ódio virtual mas nos fazer refletir. No fundo, se não temos algo de bom a acrescentar, melhor não dizer nada. É sempre melhor sobrar amor e respeito do que enaltecer a falta deles.
sempre parabens,respeito e bom em qualquer lugar independente de cor,credo ou raça
Obrigada, Alanna! Penso isso também. Bjs
Oi Fê! Gostei do desabafo. Acho um absurdo as pessoas serem sem educação com você, mesmo que não concordem, elas não tem o direito de te agredir por palavras, ou ameaçar. Denuncie, não deixe para lá. E por favor não fique triste, ignore. O que eu acho (por favor não me leve a mal, gosto muito do seu blog, você sabe que só acho que tem muito Chile nele, hehe) é que você só vê o lado bom de Santiago, deve ser porque a cidade só te deu coisas boas, mas a minha visão dos anos que passei na cidade é bem diferente como alguns outros brasileiros que comentam aqui. Fui feliz o tempo que passei em Santiago e continuo indo a cidade todos os anos, é um lugar que gosto muito, mas comparado com o Brasil, no caso SP, acho SP melhor para viver, apesar de tudo que anda acontecendo. Santiago também tem muitos problemas sociais, de educação e política… Nem tudo é belo. Acho que você poderia falar disso também. Mas que tem muito brasileiro como você falou na cidade, isso tem. Beijos
Oi Maria, tudo bem? Agradeço o seu comentário mas discordo um pouco dele. Eu não vejo apenas o lado bom de Santiago e até do país e isso também não significa que ele só me deu coisas boas. Ao mudar de país, muito do que te faz bem lhe é tirado e outras coisas você corre o risco de nunca gostar. Aconteceu comigo também. Eu reconheço os problemas que existem no Chile como um todo, a grande diferença é que o Pigmento F não é um blog focado em política mas em dicas de tudo o que envolve o meu mundo: beleza, moda, comportamento, diy e por consequência, Chile, o local que vivo. Mas essas dicas são no intuito de ajudar quem vem passear aqui. Não faz sentido explorar o outro lado, entende? Mas eu não omito no blog o que pode prejudicar a viagem de quem me segue e por isso há dicas de segurança também. Qualquer outra coisa foge do objetivo do blog. Claro que cada pessoa terá uma visão diferente do país ou cidade que escolheu morar e isso é totalmente natural, o ponto central desse texto não é fazer com que todos gostem porque isso seria tão incoerente quanto a atitude dos que não gostam, em querer que ninguém goste também. E sobre São Paulo, adoooooro. É a minha cidade. Mas mesmo reconhecendo tudo o que ela tem de bom, Santiago ainda me proporciona coisas pra continuar valendo a pena continuar aqui e não se trata de dinheiro. No fundo, é exatamente o que você comentou e eu também: é sempre bom perceber quando não vale a pena e assim voltar. É mais saudável e mais correto. Beijos e obrigada por acompanhar o meu trabalho!
Não gostei do Chile. Mas faço questão de dar todas as dicas de passeio para os meus amigos que estão de viagem marcada para Santiago, na esperança de que que eles gostem muito e voltem com boas impressões. Inclusive indico o blog. Acho que fiz a viagem esperando muito e, quando lá cheguei, tive a expectativa frustrada. Voltei com a sensação de que foi uma viagem muito cara para o pouco que ela tinha a oferecer. Quem sabe no futuro eu volte ao Chile e o veja com outros olhos. Fui mais feliz planejando a viagem do que viajando. =/
Que pena não ter gostado, Lícia mas e normal que isso aconteça, não se sinta só. Comigo também já aconteceu em algumas cidades e países que visitei mas a sua atitude de oferecer dicas apesar de não ter gostado, é muito louvável. Descreve o meu sentimento no texto. Eu não preciso gostar mas também não preciso fazer com que ninguém goste né? Posso simplesmente deixar que cada um tenha a sua opinião, não é mesmo? Obrigada por comentar.