Já perdi as contas da quantidade de gente que me diz diariamente que deseja morar em outro país e com a atual situação do Brasil esse desejo vem tomando proporções gigantes.
Já falei aqui sobre o que cada pessoa deveria avaliar antes de morar fora, já dei várias outras dicas sobre morar no exterior e inclusive já falei os 10 erros que os brasileiros mais cometem quando pensam em morar no Chile.
Então hoje resolvi falar sobre algumas ilusões que eu e muitos outros brasileiros que já vivem em outro país, escutamos ou lemos por aí sobre quem tem esse sonho. A ideia é mostrar que para determinadas coisas falta um quê de realidade.
#Ilusão 1 – Vou ficar rico
Talvez essa seja a motivação central de muitos ao pensar em morar fora. É como se o simples fato de sair do Brasil já acrescentasse alguns dígitos na conta bancária. Sim, temos muitos impostos no Brasil. Sim, é tudo muito caro. Sim, o dinheiro acaba no mesmo dia em que ele é depositado na conta. Acontece que mudar de país, independente de qual país seja, não é necessariamente uma garantia imediata de melhor condição socioeconômica. Há quem consiga dar uma reviravolta nas finanças morando fora mas também tem muita gente vivendo em piores condições do que quando estava no Brasil, simplesmente por não se preparar adequadamente para essa mudança, por pensar que mudar de país é viver no maravilhoso mundo da Disney. Você pode até melhorar a sua condição financeira em outro país, mas não, não é verdade absoluta e generalizada que ficará rico, que terá um trabalho melhor e que será mais estável economicante.
#Ilusão 2 – Vai ser fácil encontrar trabalho
Não, não vai, especialmente quando todo mundo está pensando em sair do país e aí as oportunidades de trabalho lá fora ficam saturadas. A melhor maneira de encontrar um trabalho no estrangeiro é garantindo um contrato assinado antes de sair do Brasil. Se não for assim, prepare-se para alguns meses de perrengue financeiro e apelando para o trabalho informal ou o famoso “bico”. E a resposta da demora é simples: quando você muda de país é como se você tivesse acabado de nascer: você precisa de documentos que comprovem que você é alguém, que comprovem que você entrou ali legalmente, precisa de uma autorização para trabalhar e não apenas de um visto, precisa saber o idioma local ou seja, reaprender a falar; e tudo isso leva um tempo considerável já que não depende apenas de você mas do tempo que cada uma dessas coisas leva para ficar pronta, sem contar que precisa de uma dose de sorte ou de benção – como preferir chamar – para encontrar uma oportunidade de trabalho em um mundo desconhecido onde muitas vezes você não sabe nem por onde começar a procurar. Não, não é fácil encontrar um trabalho.
#Ilusão 3 – Minha carreira vai bombar
Mudar de país não dá nenhuma garantia de que você terá o mesmo sucesso ou até mais sucesso do que você tinha com a sua profissão no Brasil. Esse é um risco para quem encontrou um trabalho de maneira independente mas também para quem já saiu do país com um contrato garantido. E isso se deve a vários fatores: sua área pode não ter a mesma importância nesse novo país, ela pode ter uma remuneração menor, as pessoas trabalham de forma diferente e isso influencia a qualidade final do seu próprio trabalho, outros dificultam a sua vida porque afinal, você está ocupando o lugar de um nativo e muitas outras coisas. Se você participar de fóruns ou grupos na internet de brasileiros que moram fora nos mais variados países, vai comprovar que muitos tiveram que mudar de área, outros jamais conseguiram uma recolocação profissional, outros tantos migraram para o subemprego e muitos passaram a cuidar da casa enquanto o (a) companheiro (a) trabalha já que nem sempre os dois possuem a mesma sorte no exterior.
#Ilusão 4 – Vou ganhar muito mais, ainda que seja no subemprego
Não, não é verdade. Embora em muitos países fora do Brasil encontrar uma diarista, uma babá ou um ajudante por um preço pagável seja impossível já que é realmente caro esse tipo de serviço lá fora; isso não garante uma vida cheia de regalias e estável. Esse é um pensamento muito anos 80 onde era comum escutar que fulano saiu do Brasil e passou a nadar em dinheiro como limpador de vidros, faxineiro ou babá na gringa. É bem verdade que com essas atividades esses profissionais ganham mais lá fora do que no Brasil porque muitas vezes o salário mínimo é melhor mas o que ninguém lembra é que o custo alto de vida não é exclusividade das terras tupiniquins. Também é preciso lembrar que o mundo não é o mesmo de três décadas atrás. Como regra geral, quanto mais desenvolvido é um país mais exigente ele será com o seu currículo, inclusive no subemprego. Em um mundo onde o Netflix ameaça a TV e o Uber ameaça o táxi, fica pra trás quem também não apresenta um diferencial no subemprego, afinal, todo mundo gosta e prefere as “versões atualizadas”.
#Ilusão 5 – Não saber o idioma não será um impedimento
Imagine a cena: Um japonês chegando ao Brasil e ele fala apenas japonês (calma, é apenas um exemplo onde deixar o inglês de lado foi proposital). A vida dele vai ser bem mais difícil se ele não puder esperar aprender português para só depois procurar um emprego. Quase ninguém fala japonês no Brasil, quem for entrevistá-lo vai tentar o inglês e como ele não sabe, as chances de conseguir esse trabalho são quase nulas. E ainda que ele saiba inglês, não poderá ficar muito tempo usando apenas esse idioma porque afinal, é com o idioma nativo que as empresas preferem trabalhar, até mesmo as multinacionais. Sim, saber o idioma vai te abrir muito mais portas e não saber vai fechar várias outras. É assim em qualquer lugar do mundo.
Poderia citar muitas outras ilusões mas estas são as que mais recebo, leio e escuto. A ideia do post é apenas fazer você lembrar que morar fora é sensacional, que pode sim melhorar a sua qualidade de vida mas não é um spa para onde você vai para relaxar e esquecer da vida. É uma decisão desafiadora, que precisa ser bem pensada, extremamente planejada e sem ilusão na bagagem. Mundo real, é disso que é composto cada um dos continentes.
