Uma das coisas que muita gente se preocupa quando decide morar fora é com a recepção dos nativos: como será que os nativos desse lugar recebem os estrangeiros? Será que são legais? Será que vão tornar a minha vida mais fácil ou mais complicada?
É um pensamento normal e tem fundamento já que em se tratando de morar fora você vai escutar diferentes feedbacks de um mesmo lugar. Você vai encontrar gente que amou morar nos Estados Unidos e vai encontrar quem odeie ter morado lá. A mesma coisa no Chile, em qualquer lugar da Europa e em qualquer lugar do mundo; e entre os fatores que fazem uma pessoa não gostar dessa experiência está a não adaptação a essa nova cultura e pessoas.
O que ninguém pensa que vai encontrar ao morar fora é uma facilidade em ser aceito pelos nativos desse lugar e uma dificuldade de levar uma amizade sincera com os conterrâneos do seu país que moram nesse lugar também.
É verdade que encontrar um brasileiro morando nesse mesmo país que você foi morar, é muito legal. Há uma grande chance de vocês se identificarem de cara, de trocarem dicas e telefones no primeiro encontro e até de frequentarem a casa e formarem uma linda amizade. Isso aconteceu comigo! Narciso e eu conhecemos um casal de brasileiros no Chile no nosso primeiro ano aqui. Essa amizade ficou tão forte que fomos os primeiros a chegar na maternidade quando o filho deles nasceu e eles foram nossos padrinhos de casamento.
Mas o contrário também pode acontecer e também já vivemos o outro lado da história. Em muitas situações nos vimos prejudicados por brasileiros. Alguns simplesmente evitam contato quando descobrem a sua profissão. Não querem concorrência, não querem disputar uma vaga de emprego com você.
Alguns evitam que seus filhos sejam amigos de outras crianças brasileiras, evitam ficar numa sala de universidade – me refiro aos que moram aqui e não aos que estão em intercâmbio – que tenha mais que 3 brasileiros e por aí vai.
Não sei como é em outros países mas aqui no Chile eu vejo (eu, ninguém é obrigado a concordar) que os brasileiros estão divididos em grupos, cada um com seus pré-requisitos de participação, ainda que não abertamente declarados – o que é normal em qualquer panelinha, seja ela saudável ou não.
Existe o grupo que odeia os chilenos e o Chile e ele geralmente é constituído por pessoas que não queriam morar no Chile mas por algum motivo se viram obrigados a isso, por pessoas que tinham uma expectativa diferente do lugar e ela não foi correspondida e também formado por pessoas que queriam que o Chile fosse uma filial do Brasil: mesma comida, mesmo tipo de pessoas, mesma cultura, mesmo tudo, só que com algumas diferenças positivas emprestadas pelo Chile. Como essa filial não existe, se frustram e se declaram inimigos dos brasileiros que gostam de morar aqui. O curioso é que mesmo tendo a possibilidade de morar em outro país – a maioria dos que reclamam também assumem ter condições de ir embora – eles não vão.
Existe o grupo dos brasileiros que odeiam outros brasileiros. Eles já não gostavam dos brasileiros quando moravam no Brasil, então evitam qualquer contato com brasileiros em outros lugares do mundo. Até aí nenhum problema, se eles se contentassem em ficarem isolados ao invés de prejudicar os outros. Na maioria das vezes eles se dedicam a falar mal dos seus compatriotas, a fazer fofoca deles nos grupos criados na internet e até a denunciar quando estão ilegais. Denunciar é algo correto e digno desde que a motivação para isso também seja. Por que eles também não denunciam para a polícia quando veem algum chileno errando em qualquer tipo de lei?
Existe também o grupo dos desconectados. São os que nem criam laços consistentes com os chilenos e nem com os brasileiros. Estão aqui apenas para trabalhar, voltar no final do dia para as suas famílias e viverem suas vidas sem criar intimidade com ninguém. Eles não criam laços mas também não criam inimizades.
E por último, existe o grupo dos brasileiros que se ajudam. Eles podem ser grandes amigos ou simplesmente tornar grande os 5 minutos em que se conheceram e que talvez não volte a acontecer nunca mais enquanto morarem no mesmo país, mas eles sempre vão se permitir uma dica, um conselho, uma risada, uma palavra amiga.
Esse texto não é para dizer que o mundo inteiro está certo e os brasileiros estão errados. Também não é para dizer que só brasileiros morando fora fazem isso com seus compatriotas e outras nacionalidades não. Esse texto é apenas para dizer mais uma vez que morar fora é uma experiência enriquecedora desde que você não crie um conto de fadas por trás disso, porque os problemas sempre existirão, podem apenas mudar de lugar no mapa e de idioma, mas estarão lá, em maior ou menor escala e que sempre existirá a possibilidade de se dar melhor com os nativos, mesmo com todas as suas diferenças, do que com os compatriotas. Porque lidar com os nativos te obriga a aceitar que há uma diferença cultural entre vocês, enquanto que lidar com os compatriotas exige conviver de novo com tudo aquilo que você já amava ou odiava e olhar para dentro é sempre mais difícil que para fora.
Particularmente, prefiro me afastar de pessoas negativas independente de suas nacionalidades. Prefiro viver grata com as coisas boas que cada lugar e pessoa me proporcionam porque isso muda o meu dia, a minha postura diante de tudo e faz com que eu seja mais feliz e gentil com todos. Eu escolhi morar fora e não construir um universo paralelo. Acho que isso faz com que eu seja feliz e realizada na minha experiência.
Fê, concordo com tudo que voce escreveu….
Completarei 6 anos morando aqui no Chile dia 6 de fevereiro, tenho um filho chileninho, e meus pais tbem sao chilenos, entao o Chile sempre fez parte de mim. Nasci no Brasil, me apaixonei por um chileno e aqui estou a quase 6 anos.
Eu participo de muitos grupos, que existem no Facebook, de brasileiros que moram no Chile, e meu Deus, é uma pena a maioria das vezes eles acabam sendo muito preconceituosos, riem da maneira que as chilenas se vestem, de como o Brasil é mil vezes melhor no futebol, da comida e do povo. E sempre fico muito chateada, e acabo pegando as dores, já que o Chile me recebeu de bracos abertos, formei minha familia aqui, e tive uma oportunidade linda de trabalho. Felizmente trabalho com alguns brasileiros que se tornaram meus amigos, mas tem muita gente aqui que é do mal, so reclamam e nao agradecem nada… Enfim fora os amigos brasileiros que fiz no trabalho, nao encontrei mais ninguem, como vc disse acabam formando seus grupos e fica dificil de encaixar em alguns deles….
Adoro ler seus post, vc escreve super claro e de uma forma que nao da vontade de perder nada. Parabéns pelo trabalho que vem fazendo, espero um dia poder ir te encontrar em algum encontrinho, infelizmente os outros que vc fez estava no Brasil visitando meus pais.
Um beijao Fe,
Luna, é exatamente isso. Não participo mais de nenhum desses grupos porque não me acrescentavam nada de bom, sem contar que se você gosta do país e das pessoas você vira um alvo, estilo a guerra dos taxistas contra a Uber. Horrível! Como eu disse no post, eu escolhi morar fora e não criar um universo paralelo e é isso que faz eu gostar dessa troca cultural. Bjs e muito obrigada pelo carinho! Espero que a gente consiga se conhecer.
Luna, desculpe me intrometer aqui na sua conversa com a Fe. Mas li seu comentário e acho que você deve sair desses grupos de brasileiros do facebook que te incomodam tanto. Você tem toda razão de ficar brava, ainda mais sendo filha de chilenos, eu que não tenho nada de chilena me irrito, imagina você. Como aprendemos aqui no blog da Fe, elimina o que te faz mal. Muitos brasileiros chegam a faltar com respeito com os chilenos que são tão legais com os brasileiros. Esquece esse povo e siga só os blogs legais como o da Fe e o Santiago do Chile para brasileiros. Bjs
Obrigada por me incluir! E é bem isso: uma falta enorme de respeito. Bjs
Você disse boas verdades Fê. Vou falar da minha experiência. Eu não tinha amigos brasileiros em Santiago, a única brasileira já conhecia de SP então não conta. Sabe porque só tinha amigos chilenos? Me irritava demais a mania de falar mal do Brasil por nada. Nosso país tem sérios problemas sociais, mas só viam o lado ruim do Brasil e esqueciam o lado ruim do Chile nas comparações. Tipo comparavam La Reina com Carapicuíba ao invés de comparar com os Jardins. Puente Alto nem era citado, mas faz parte de Santiago e nós duas sabemos que a vida lá não é nada fácil. E também não gosto de viver em colônia. Acho que se você mudou para um país tem que se integrar em tudo, se só quer viver com brasileiro, comer comida brasileira e escutar música brasileira, porque está em tal país e não no Brasil? Só para dizer que mora no exterior? Gostava muito de morar em Santiago, cidade que adoro e visito todos os anos praticamente, mas apesar de tudo ainda acho o Brasil melhor para morar, por isso que voltei para SP e não me arrependo mesmo com a crise e a pouca vergonha dos políticos. Uma amiga disse que nos Estados Unidos acontece o mesmo. Desculpe se escrevi muito. Não sei se gosta desse tipo de comentário. Fe faz um novo posts daquelas saladinhas maravilhosas em potes! Beijos
Muuuuito obrigada por comentar e comentários longos são os mais legais! É exatamente isso: eu escolhi mudar de país e não criar um universo paralelo. E sobre o outro assunto, eu amo morar aqui e já não me adapto em São Paulo mas isso não quer dizer que o Brasil nao tenha coisas boas e que Chile seja perfeito. O segredo da felicidade é o equilíbrio e ele está em falta em muitos que moram fora. P.S: Farei um vídeo com novas saladas mas o que quer saber sobre elas exatamente? Pra que o vídeo fique melhor. Bjs
Fiquei com receio do comentário ser grande demais! Me empolguei porque acho a mesma coisa que você! hehe Acredito em você não se adaptar de novo a SP que é sua cidade natal, já que a vida em Santiago é muito diferente, bem mais tranquila, e por te acompanhar, vejo que se adaptou perfeitamente. Eu gosto da loucura de São Paulo, apesar de amar Santiago, adoro o ritmo de vida frenético e pela cidade ser 24h. Sinto falta disso em Santiago e do jeito mais sossegado do brasileiro. Você faz muito bem em viver a sua vida e ficar perto só de quem vai te fazer bem, não importa a nacionalidade.
Que legal que está preparando um vídeo das saladinhas!! Acho que seria legal se não for te tomar muito o tempo de preparar tipo cinco opções para a gente preparar no domingo e ter um almoço saudável e delicioso da semana toda. Beijos
Eu sentia falta disso no começo, depois passou. Tirar o pé do acelerador me fez um bem enorme. O vídeo da salada de vidro mostra 3 opções mas vou tentar pensar em outras. No fundo você pode testar com tudo o que goste. Bjs
Oba Fe! Obrigada por pensar em novas opções de saladinhas! :) Você é demais! Mas três está ótimo! Aí junto com as que já passou antes e dá para a semana inteira! Vou tentar pensar em alguma coisa, se der certo te passo. Eu sou muito agitada! Chegava sábado de tarde e domingo e morria de tédio em Santiago. Tudo fechado! Ruas desertas! Não é para mim! rs Caçava algum amigo para não ficar em casa. Imagina minha alegria nos feriados irrenunciables! kkk Tirando isso, Santiago é demais. Beijos
Já eu adorei isso porque eu sou publicitária e me aventuro na música, duas profissões que tomam muito do seu tempo, aonde você sabe a hora que começa mas não pode prever quando termina. Santiago me colocou no eixo de novo sem precisar abandonar as duas coisas que amo e ainda consegui ter um blog. Acredite, eu precisava dessa paz rsrs. Bjs
Oi Fe, faz pouco tempo que vejo seu blog, te encontrei por causa das coisas que voce postou do seu casamento..
Moro no Chile faz 8 anos e particularmente prefiro me afastar de gente negativa como voce disse, mas pra mim o pior é ver e estar com brasileiros que saem do brasil e só por estar vivendo em outro pais se acham o dono do mundo, fazem comentarios muito fortes contra os outros, sao muito prepotentes e isso pra mim é horrivel.. mas enfim, todos esses tipos de pessoas vamos encontrar em qualquer lugar né? Brasileiro, Chileno, Argentino independentemente da nacionalidade..
Fe, por favor, onde voce conseguiu aqueles caixotes de madeira aqui no Chile? Estou precisando de alguns..
Beijao
Gleice, esse tipo de gente espalhada pelo mundo, é bem complicada mesmo. Faz muito bem em manter distância. Os caixotes eu peguei na La Vega, conhece? Bjs
Oi Fê! Moro em Santiago há pouco menos de um ano e me identifiquei muito com o que você escreveu.
Também li os comentários abaixo e concordo 100% com o que as meninas disseram sobre esses grupos do facebook. Entrei em alguns logo que cheguei, porque vim sozinha e ainda preciso conhecer gente, mas tem um pessoal muito vazio, preconceituoso e desocupado, eu diria rs.
Logo nos primeiros meses, resolvi tentar ir em um desses eventos que os brasileiros fazem por aqui pra se reunirem (festa junina, mais precisamente), achando que ia ser uma coisa boa pra conhecer gente e tentar fazer amigos. Foi super legal, comi coisas gostosas, a música estava boa, mas o que encontrei de verdade foi um grupo muito fechado aproveitando como se fosse um evento interno e nem aí pra quem era novo (sendo que a proposta era integrar a todos). Não me arrependi de ir, mas tampouco tentei novamente.
Eu tenho uma dificuldade grande de socializar aqui porque meu ambiente de trabalho não ajuda muito, mas nunca tive problemas com ninguém e sinto que os chilenos amam o Brasil e acham super legal encontrar brasileiros. Estou certa de que meus problemas de socialização são meus e não do Chile e, apesar de entender que problemas todos os países tem e aqui não é o paraíso, não tenho intenção de voltar tão cedo.
Ah, seu blog foi o primeiro que conheci logo que vim pra cá e sempre me ajuda muito! Obrigada!
Beijo
Luiza, super maduro seu comentário! Morar fora é reaprender a viver e muda inclusive a forma de se relacionar. Com o tempo tudo isso volta ao lugar, basta estar disponível para isso. Sucesso na nova vida e fico feliz que o blog tenha te ajudado. Bjs
El tema de que hablas, es universal…yo fui inmigrante en do países, y tengo hermanos inmigrantes en otros países….y la lección que sacamos todos es que cuando se escucha hablar chileno en el extranjero en algún lugar público….lo mejor es hacerse el leso y no volverse loco….ya que tuvimos pésimas experiencias al respecto….preferíamos que chilenos que ya conocíamos nos presentaran a otros chilenos…y aprendimos a relacionarnos con los locales….
Así es. Lamentablemente suele pasar.
Sofri assédio moral por 8 meses no exterior, e isto foi causado por outros dois colegas Brasileiros que não queriam concorrência. Pra piorar, os ataques aconteceram na minha língua nativa, portanto ninguém foi capaz de perceber o que estava acontecendo. Foi uma tortura até que eu encontrei outro lugar pra mim.
Meu conselho é que você coloque limites desde o início se as coisas começarem e nào tenha medo em expor para a gestão logo de cara.
Que chato, Marcello mas você tem toda razão.