Restaurantes Brasileiros no Chile e a opinião dos chefs chilenos

Tenho muitos leitores brasileiros que já moram no Chile e é bem recorrente me pedirem dicas de onde encontrar determinadas coisas do Brasil no Chile ou o nome equivalente em espanhol para poder substituir, especialmente quando se trata de alimentos. Foi por isso que resolvi criar a coluna #AchadosdoBRnoCL, que vai contar as coisas que vou encontrando do nosso Brasil em Santiago ou em outros lugares do Chile.

Não tem muitos restaurantes brasileiros em Santiago se eu comparo com a quantidade de restaurantes peruanos mas a explicação é bem óbvia: a quantidade de peruanos no país é bem maior. Mas entre os que existem, vou recomendar os dois restaurantes que eu mais gosto. Eles servem para os brasileiros que moram aqui matarem a saudade do Brasil e para aqueles brasileiros que com 4 dias longe da terrinha já estão suplicando por um feijão.

Mas antes de falar dos restaurantes, achei legal conversar com 3 profissionais da gastronomia chilena para saber o que eles acham da gastronomia brasileira. As respostas foram bem interessantes.

“A gastronomia brasileira é bem variada,  do norte ao sul do país, mas em geral é pesada. Eles não abrem mão do combo arroz + feijão diariamente, algo que se repete no almoço e na janta. É preciso muita habilidade para comer algo tão contundente com as altas temperaturas que o país oferece. Tiro o meu chapéu para eles (risos)”, diz Loreto Larrain, 34, chef de cozinha.

“Trabalhei 3 anos em restaurantes brasileiros de diferentes cidades do Brasil e foi uma grande experiência e nela pude descobrir que o brasileiro gosta de artificializar os alimentos. Eles gostam de comidas bem temperadas, o que deixa tudo muito bom mas rola excessos. Uma coisa é temperar a batata, outra coisa é ter tanto tempero a ponto do sabor da batata ser anulado. No fundo não gostam do alimento em si, mas do que dá outro sabor pra ele. Com certeza é por isso que possuem dificuldade de se adaptar a culinária chilena. No Chile gostamos de uma comida saborosa mas somos ensinados a preservar o sabor natural de cada alimento. O sal e o pebre (tempero local parecido a um vinagrete mas um pouco mais picante) ficam na mesa para quem quiser dar um toque pessoal ao alimento mas como regra, ele é preparado sempre pensando em preservar o sabor original. Os brasileiros não curtem isso”, diz Juan Cristobal, 42, Mestre em Gastronomia.

Ainda sobre o quesito tempero, Jaime Diaz, 53 anos e enólogo, diz: “Não podemos esquecer que do norte ao sul do Chile o vinho está muito presente nas refeições, cabendo a ele a responsabilidade de dar o sabor a uma refeição. No Chile é o contrário: é o alimento que acompanha o vinho e não o vinho que acompanha o alimento, portanto preservar ao máximo o sabor original de um alimento faz todo sentido. Sem contar que boa parte da população chilena é fumante. Agravaria ainda mais o estado de saúde dos chilenos se fossem ensinados a gostar de muito sal e temperos.”

Achei as declarações muito interessantes e marquei em negrito o que mais me chamou atenção porque o que é ótimo pra nós nem sempre fará sentido para o outro, ainda mais quando o assunto é diferença cultural, né? Mas vamos aos restaurantes brasileiros.

O primeiro que eu quero indicar é o Muqueca. Mais brasileiro impossível, né? Talvez seja o restaurante brasileiro mais conhecido de Santiago. Ele fica em Ñuñoa, a equipe é 90% composta por brasileiros e o objetivo do restaurante é proporcionar para a comunidade brasileira a sensação de estar no Brasil. O restaurante tem show de MPB ao vivo, é decorado com um ambiente meio praia, meio pousada, os atendentes te atendem com aquele gingado do Brasil e os pratos são realmente típicos: do Guaraná à porção de Mandioca, da feijoada à coxinha.

*Fotos: Muqueca

Os preços são um tanto elevados – média de 80 reais por pessoa mas tem pratos que podem ser divididos – se você pensar que se tratam de comidas comuns no nosso Brasil, mas aqui é comida internacional e isso encarece o nosso básico feijão preto. Não é necessário reservar mas costuma ser mais cheio aos finais de semana, o que pode provocar algum tempinho de espera.

Outro restaurante brasileiro que eu gosto é o Acuarela. Na verdade ele não é um restaurante 100% brasileiro mas sim brachileno. Os donos são chilenos mas gostam muito do Brasil e fizeram um restaurante self-service – o que no Chile não é comum e em espanhol se diz Tenedor Libre (garfo livre) – onde metade do balcão tem comida chilena e a outra metade tem comida brasileira. É uma boa opção para quem quer se arriscar na comida chilena mas se não gostar pode contar com a comida brasileira do outro lado do balcão e pode repetir quantas vezes quiser. É parecido a uma churrascaria brasileira, com um pouco de cada coisa do Brasil.

É bem mais barato que o Muqueca – média de 45 reais por pessoa e com a opção de repetir – mas como já foi dito, o Muqueca é realmente brasileiro, até no valor do prato hahaha. Ele fica em Vitacura, área nobre da cidade.

Já fui em muitos restaurantes brasileiros aqui mas eu realmente só gosto desses. Nos outros a comida, o preço e o atendimento deixam muito a desejar.

Em breve volto com mais #AchadosdoBRnoCL.