Eu já falei aqui no blog sobre Depressão Pós-Viagem, que é aquele sentimento de nostalgia atrelado a vários outros fatores que costumam acontecer com a maioria dos que voltam de uma viagem. Apesar de ser chamada de depressão ela não chega a se tornar um quadro clínico mas a Síndrome do Regresso é perigosa para a saúde e precisa ser acompanhada de perto.
O que é a Síndrome do Regresso?
É a depressão que vem da dificuldade de se readaptar ao país de origem. É mais comum em intercambistas mas pode acontecer também com quem passou um tempo morando em outro país. A coisa é tão séria que já é um assunto tratado abertamente por vários psicólogos e se você fizer uma busca na internet vai encontrar bastante coisa sobre o assunto. No fundo é algo que sempre existiu mas que agora tem nome além de ter se tornado mais frequente, já que também se ampliaram as possibilidades para que mais pessoas tenham acesso a uma experiência internacional, diferente do que acontecia há anos atrás.
Por que ela acontece?
De acordo com o neuropsiquiatra Décio Nakagawa que nomeou a síndrome, uma pessoa que decide morar fora está cheia de expectativas e planos e ela leva de 6 meses à 1 ano para se adaptar a essa nova vida. Porém, a readaptação ao país de origem pode levar até 2 anos, já que essa vida nova no exterior proporcionou experiências até então desconhecidas e que agora, de volta ao país de origem, ela já não pode vivê-las.
Quais são os sintomas que desencadeiam a Síndrome do Regresso?
- Dias monótonos, sem novidades
Quando se mora fora tudo é novo: o idioma, a maneira como as pessoas se comportam, as casas, a forma de trabalhar, os documentos, a alimentação, os lugares, os problemas… Até o simples ato de comprar pão acontece de maneira diferente. Saber que tudo, por mais simples que seja, é novo, dá uma sensação indescritível de estar fora da rotina e perder essa sensação ao voltar ao país de origem é ruim.
- Perder os amigos de vários lugares do mundo
Quando se mora fora não se tem contato apenas com os nativos, o que já é uma experiência incrível, mas com pessoas de vários outros países. E como todos estão longe da família ou de tudo o que antes era familiar, a amizade surge muito facilmente e de forma intensa e verdadeira já que estes estrangeiros também entendem o que você está passando. Perder o contato com essas pessoas e com essa sensação de “eles me entendem e me apoiam sem eu precisar dizer”, também não é fácil.
- Parar de viajar com frequência
Um estrangeiro acaba conhecendo mais lugares de um país do que os próprios nativos. Como eles estão dispostos a descobrir o novo e muitas vezes com tempo para viajar, é bem comum que viajem dentro desse novo país e aos países vizinhos a cada fim de semana. Ao voltarem para o país de origem isso fica mais difícil porque já não é tão barato viajar com frequência, já se tem mais vínculos e compromissos que impedem uma agenda mais livre e também diminuem as possibilidades de viajar em grupo. Perder essa vida intensa é bem complicado.
- Sou mais um na multidão
Tudo é sempre novo em uma experiência internacional, inclusive você. Um estrangeiro é sempre facilmente reconhecido. Os nativos gostam de saber sobre a sua cultura, de escutar o seu sotaque, de ver como se veste diferente e muitos nativos até preferem namorar ou casar com estrangeiros. Em muita gente, esse sentimento de ser diferenciado tem uma importância enorme, especialmente se ele vem de um lugar onde não recebia muita atenção e não ter isso no dia a dia ao voltar para o seu país pode deprimir já que lá ele é igual a todos e aquela saudade enorme que a família e os amigos sentiam e que também dava a sensação de ser muito especial, acaba depois de 1 mês que ele voltou, justamente porque voltou para ficar.
- Me sinto um peixe fora d’água
Bastam alguns meses fora para se sentir totalmente perdido ao voltar. O tempo passou para todos, ou seja, as pessoas no seu país viveram outras coisas na sua ausência, novas expressões ou gírias surgiram nesse período que você não acompanhou, sua cidade está diferente, seu país tem novas leis e por aí vai. É difícil se ver de novo nesse lugar e pra ajudar você criou vícios de linguagem do idioma aprendido que saem naturalmente quando você conversa e isso cria em quem está ao seu redor a sensação de que você está querendo se aparecer, o que nós sabemos bem que não é verdade.
- Dificuldade para se encontrar no próprio país
Nenhum país é perfeito mas alguns têm menos problemas que outros e dependendo do país aonde você tenha passado um tempo fora, voltar para um lugar com alto índice de violência, impostos altos, corrupção frequente, transporte público precário, barulho diário, excesso de burocracias e até pequenos desvios de caráter no comportamento das pessoas sem elas nem se dar conta; pode ser complicado demais assim que você volta. É nesse sintoma que geralmente as pessoas desenvolvem a depressão e até a síndrome do pânico porque passam a ter medo de sair de casa, da violência, de voltar tarde pra casa e etc. Sem contar a frustração profissional. Em muitos casos, voltar para o país de origem falando vários idiomas e com muitos cursos e experiências não é garantia para conseguir um bom emprego e entre um dos motivos está o fato de que você passou tanto tempo fora que já não tem quem te indique no mercado.
- Você realmente não é mais a mesma pessoa
E isso não é só você que acha mas todo mundo que convive com você. Você aprendeu a ser sozinho, a ter atitude, a enfrentar seus medos, a falar uma nova língua… Resumindo, sua mente expandiu muito nesse tempo fora. Você ficou maior para o espaço que preenchia antes de sair e talvez, sem a ampliação desse espaço, você realmente não consiga mais se encaixar. Todo mundo ficou te esperando enquanto viviam as suas vidas, ao mesmo tempo em que você vivia intensamente a sua vida sem esperar por quase ninguém. Agora você volta e se sente ingrato por não estar contente com a vida que te fazia feliz antes e por sentir que para as pessoas que te amam você virou o chato que só tem o mesmo assunto.
Como superar?
- Primeiro você precisa aceitar que precisa superar. Esse voltou a ser o seu mundo e você precisa dar um jeito de se readaptar;
- Torne-se um turista no seu país e até mesmo na sua cidade. Não abandone as viagens, você realmente não conseguirá mais viver sem elas. Trabalhe para continuar viajando;
- Mantenha contato com os amigos que fez lá fora. Da mesma forma que antes, eles continuam sendo os que mais vão entender seus sentimentos nessa fase;
- Assuma a sua depressão mas faça algo produtivo com ela. Crie um grupo nas redes sociais, um blog, um canal no Youtube e tudo o que você puder para extravasar essa vontade de continuar falando dessa experiência incrível;
- Respeite o tempo que uma adaptação pede. Vai demorar mas chegará o momento em que você vai se sentir em casa de novo ou pelo menos mais adaptado. Evite se jogar numa rotina pesada de estudos e trabalho logo de cara. Exaustão só aumenta a depressão.
E se nada disso resolver, procure ajuda profissional mas esteja consciente de que em muitos casos, o regresso ao país de origem não traz paz e nem a sensação de pertencer àquele mundo. Se a dificuldade de adaptação passar de 2 anos talvez a sua cura seja realmente fazer as malas de novo.
- Dica para quem tem por perto alguém com a Síndrome do Regresso: Respeite e seja paciente. Não é frescura, é uma mudança muito grande de vida, mesmo que essa pessoa tenha nascido e morado mais tempo no país de origem do que fora. Tente ajudar não criticando. Eu, que moro fora e não tenho previsão de volta ao meu país de origem, já sinto boa parte disso tudo quando vou passear, imagine quem voltou de vez.
Alguém aqui se identifica com o texto? Alguém já superou esses sintomas? Quanto tempo levou? Conta pra mim!
*Fotos: Banco de Imagens
Super importante esta postagem, tenho um filho morando fora, serão 4 anos, passaram-se apenas 18 meses e já sinto alguns desses sintomas em mim, até por Skype, ele já é alguém completamente diferente.
Imagino quando voltar! Se voltar…
Elisa, é bem complicado mesmo porque uma experiência internacional muda muito a gente na velocidade da luz. Que aconteça o melhor pra vocês!
Ola a todos,
Entendo perfeitamente, morei dois anos na Irlanda e eu mudei completamente e já se passaram vários anos e até hoje não me sinto adaptada ao Brazil e como se eu não fizesse parte e que estou aqui só de passagem, dos amigos da época que eu morei aqui antes do Intercambio, hoje tenho contato somente com alguns pelo o fato de acham me esnobe e acabei ficando somente com as amizades que moraram fora pelo o fato da comunicação e entendimento ser mais fácil. Viajar tenho uma dificuldade enorme de viajar aqui nao me sinto segura e sempre acho que alguma coisa ruim vai acontecer.
Hoje faço alguns tratamento que ajudam amenizam um pouco o meu sofrimento.
Eu estou há três anos de volta pro Brasil depois de um ano em Londres. Já desisti de me readaptar ao Brasil e estou procurando meios de voltar pra Europa.
Terapias, remédios, atividades, projetos, nem religião me ajudaram a superar a síndrome.
Muitoa não me entendem mesmo da família, mas já não me importo com o que eles pensam, preciso recuperar minha saúde emocional e meus planos de vida.
Muito obrigada pelo texto.
Vanessa
Vanessa, é muito complicado mesmo e como você disse, chega um momento em que já não vale a pena porque fica claro que nosso mundo mudou e chega a ser injusto com a gente e com os outros, mas principalmente com a gente, querer uma vida que só é possível em outro lugar. Espero que recupere a sua felicidade. Bjs
Boa Noite, eu estava procurando algo na internet relacionado ao que eu estou sentindo no momento da minha vida, estou um pouco depressiva porque eu criei toda uma expectativa para morar no eua, fui até lá trabalhar como aupair, porêm não deu certo e acabei voltando antes do prazo, recomeçar não é facil ainda mais quando se cria um grande objetivo na vida, mais texto me ajudou muito e vou tentar praticar para caso eu conseguir aceitar tudo novamente no meu País.
Fico feliz em ter ajudado de alguma forma e espero que logo você esteja melhor. Boa sorte!
Voltei dos USA ha 9 anos, passei 2 anos la.
Quando cheguei aó Brasil não me adaptei e fui pra Europa, e pahh não me adaptei também.
Boa sou divorciada, com dois filhos, e tenho crises de choro frequentes por não me sentir parte desse mundo que vivo. É um sentimento horrível, parece que nada aqui da certo, meus amigos sumiram e diariamente fico.procurando saber as notícias de Connecticut, que foi onde.morei. É horrível a sensação, 9 anos se passaram e.parece estar das dia.pior. parece que tenho sofrido com.Mais frequência 😢
Ediane, essa sensação é realmente muito ruim. Aconselho que procure ajuda médica porque vai te ajudar bastante. É algo sério que precisa ser acompanhado porque atrapalha outras áreas da vida. Espero que tudo fique melhor pra você, viu? Bjs
100% de identificação com o texto.
Voltei há 7 anos, mas nunca mais senti bem aqui.
Me adaptei. Continuei vivendo. Me formei. Estou terminando minha especialização. Porém, sabe aquela sensação de você não pertencer mais ao local? É o que sinto diariamente; de fazer tudo no automático.
Minha cura será em 68 dias. Quando estarei de malas prontas para voar daqui e começar mais uma aventura.
Dessa vez sem retorno!
beijo.
Andréa, desejo que tudo volte ao normal pois se sentir parte de um lugar é fundamental. Boa sorte!
Boa noite!
Bom, eu fiz minha primeira viagem ao exterior em 2006, uma semana em Buenos Aires.
Após dois dias lá, comecei a me sentir em casa e nem queria pensar em meu retorno ao Brasil. Voltei e chorava muito.
E, desde então, não me sinto brasileira e não tenho nem mesmo ânimo para sair de casa. Me sinto em uma cadeia, em um lugar feio e repleto de gente mal-educada.
Por dois anos, tive que fazer uma ponte aérea entre Brasil e Argentina, para não ficar deprimida ou me livrar da depressão.
E estive por três meses na Itália, voltei há um ano e estou mal, perdi a vontade de viver. Nem consegui terminar o semestre na universidade, porque fica ao lado do aeroporto internacional e ver aqueles aviões decolando, rumo à Europa, me levou a um forte mal estar.
São 10 anos que o Brasil representa a morte para mim. Procuro o melhor daqui mas não adianta. E acho que não quero me curar disso, me entregaria com prazer a minha doença: faria as malas e adeus para sempre!
Olá Fê! Este mês fez 1 ano que retornei da Nova Zelândia e ainda é como se tivesse voltado ontem. Me identifiquei completamente com tudo. Extremamente difícil pois me identifiquei com a cidade em que estava como nunca havia acontecido em todos meus 36 anos de vida. Com o país, as pessoas, tudo… Não superei ainda e só penso em um dia retornar em definitivo.
Que todos que estão no mesmo barco consigam retornar aos seus portos seguros!
Muito grato pelo cuidadoso texto que escreveu. Abraços!
Ricardo, que complicada a sua situação. Desejo que logo se sinta em casa de novo. Boa sorte!
Nunca estive fora por mais de trinta dias; mas, mesmo as viagens curtas nos dão uma amostra do que acontece com quem ficou lá fora por mais tempo. Voltar a ver as mesmas estradas esburacadas, a cidade em processo crescente de favelização e a corrupção generalizada não é experiência agradável! E se você fizer comparações frequentes, poderá ser mal entendido…
Excelente texto :). Morei 7 anos em NYC , voltei para o Rio 14 anos atras , no inicio a readaptacao foi horrivel. Hj penso em sair novamente. Talvez Europa. MARVILHOSO TEXTO me vi nele. Obrigado.
Entendo super do que está falando. Voltei de Portugal faz uns sete meses, depois de um ano morando lá. Agora que comecei a viver minha vida de forma mais normal. Mas para isso tive que aceitar que por enquanto essa é a minha realidade e que ela não é tão ruim assim. Fazer isso foi é é um processo bem difícil, mas acredito que com o tempo as coisas melhoram e ficamos prontos para novas aventuras!
Super importante falar sobre isto! Voltei ao Brasil em julho de 2015, após seis meses em intercâmbio em Portugal. No início, não conseguia falar sobre minha experiência, fiquei um mês em sair de casa. Hoje já me sinto mais a vontade para compartilhar minhas vivências, porém com ressalvas. Precisamos falar sobre isto, precisamos incentivar as pessoas a abrir seus horizontes, e precisamos preparar os familiares para a volta. É um misto de sentimentos, a alegria e tristeza da chegada, que são incompreendidas pelas pessoas que mais amamos. Não é ingratidão! É dor, é saudade, é nostalgia, é desejo de voltar, é perceber que nada é igual, por não estarmos igual (ainda bem!), é planejar a todo instante a (re)volta, é aprender a amar várias culturas, vários modos de ver e viver a vida, é estarmos disposto e disponíveis à mudança (em todos os sentidos). Obrigada pela partilha, Fê. Abraços!
Eu passei por essa experiência duas vezes. Não é nada fácil. Acredito que até um dos sintomas e o afastamento, pois deixamos de nos sentirmos pertencentes a esse meio de origem. Hoje faço até acompanhamento profissional que tem dado ótimos resultados e vejo sim, que a minha melhor opção e voltar. Mas, enquanto não volto, eu também preciso ser feliz aqui e da sempre o meu melhor em tudo que faço e com prazer!
Eu voltei de um país há quase 5 meses e tenho muita dificuldade de readaptação. Morei apenas 1 ano fora e estou sentindo na pele a dificuldade de lidar com as pessoas. Não é mole não, mas estou na tentativa de superar isso. O seu texto é perfeito… parabéns!
Esse texto é um alento aos corações aflitos que passam por esse turbilhão de sentimentos, super me identifiquei, a pouco mais de um ano venho passando por marcantes transformações na minha vida, primeiro uma crise de ansiedade generalizada acompanhada de crise de pânico e, a qual faço tratamento que me ajuda muito e, a 15 dias retornei da minha primeira experiência internacional, fiz uma viagem turística de 16 dias pelo leste europeu, somando a tudo isso vivo em uma cidade do interior do MT, como o texto descreve o retorno foi e está sendo uma luta de total readaptação a realidade em que vivo, a sensação de “despertencimento” de ter ficado uma parte minha lá é indescritível, não sei explicar em palavras a emoções que passam na minha cabeça e coração.
Com a ajuda de Deus,amigos, família e trabalho espero superar isso tudo e estar pronta para uma próxima, mais amadurecida!
Nosso caminho a Deus pertence! E é nele que confio o meu destino!
Obrigada pelo espaço de desabafo!
Abraço e força a todos!
Nossa como me identifiquei com isso tudo, eu morei na Itália por apenas 11 meses e eu fiquei me sentindo muito triste e sozinha e muita falta da minha família e isso me fez voltar para o Brasil denovo,e nem quis mais fazer os meus documentos que me daria a cidadania italiana, peguei meus filhos e meu marido e voltamos, mais se passaram alguns meses e eu me sinto arrependida de ter voltado, as vezes me pergunto pq eu voltei?pq eu não tentei ao menos fazer os meus documentos, nossa me sinto uma inútil por não conseguir ter ficado, e agora tenho vontade de voltar pra fora do Brasil denovo mais com medo, não sei se isso vai passar, espero que sim .
Essa é minha experiência
Abraço
Olá… eu morei fora de 2000 a 2002, dos 10 aos 12 anos e quando voltei sofri muito… ninguém me ofereceu ajuda profissional, mas evidentemente precisava.. comecei a tratar depressão aos 19 e até hj tomo remédios e se começar a falar sobre onde morava eu choro… me sentia completamente deslocada, ainda me sinto um pouco… é dificil, cruel até, ir pra um lugar melhor de viver, onde o estudo é valorizado e as pessoas se portam de forma mais ética e depois ter que voltar pra cá.
No meu caso moro com meu marido à 5 anos na Alemanha, já pasamos pelo período mais difícil aqui pelo idioma e burocracia de papéis. Enfim nos adaptamos muito bem, amamos tudo aqui, o idioma, a cultura, a organização e principalmente a segurança! Apesar de viajarmos uma vez ao ano para o Brasil, nossa família sempre faz uma chantagem emocional para a gente abandonar tudo e voltar para o Brasil, mais ainda da minha parte , meus familiares me pressionam sempre, como se eu tivesse abandonado eles…. Eles não entendem que nós só queremos realizar nossos sonhos de ter uma vida melhor.
Acho que eles não deviam agir dessa forma, mesmo assim quando penso em fazer a vontade deles tenho certeza que não vou mais ser feliz lá!