16 ago 2013

PF Palette – 16/ago/13

LIFESTYLE > Resignifica

play

 

 

O perigo da viagem mora nas malas. Elas podem nos impedir de apreciar a beleza que nos espera. Experimento na carne a verdade das palavras, mas não aprendo.

Minhas malas são sempre superiores às minhas necessidades. É por isso que minhas partidas e chegadas são mais penosas do que deveriam. Ando pensando sobre as malas que levamos…

Elas são expressões dos nossos medos. Elas representam nossas inseguranças. Olho para o viajante com suas imensas bagagens e fico curioso para saber o que há dentro das estruturas etiquetadas. Tudo o que ele leva está diretamente ligado ao medo de necessitar.

Roupas diversas: de frio, de calor – o clima pode mudar a qualquer momento! Remédios, segredos, livros, chinelos, guarda-chuva – e se chover?

Cremes, sabonetes, ferro elétrico – isso mesmo! Microondas? – Comunique-me, por favor, se alguém já ousou levar.

O fato é que elas representam nossas inseguranças. Digo por mim. Sempre que saio de casa levo comigo a pretensão de deslocar o meu mundo. Tenho medo do que vou enfrentar. Quero fazer caber no pequeno espaço a totalidade dos meus significados. As justificativas são racionais. Correspondem às regras do bom senso, preocupações naturais para quem não gosta de viver privações. Nós nos justificamos: “Posso precisar disso, posso precisar daquilo…”

Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas. Excedem aos tamanhos permitidos. Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão para ser despachado?

As perguntas são muitas… E se eu tiver vontade de ouvir aquela música? E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez?

Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou. Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra nada.

É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências. E nisso mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo que não temos. É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.

E então descobrimos o motivo que levou o poeta a cantar: “Bom é partir. Bom mesmo é poder voltar!”

palette16ago13Ele tinha razão. A partida nos abre os olhos para o que deixamos. A distância nos permite mensurar os espaços deixados. Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue sendo. Ao ver o mundo que não é meu, eu me reencontro com desejo de amar ainda mais o meu território. 

É consequência natural que faz o coração querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou. É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro. Vida e viagens seguem as mesmas regras. Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver. Por isso é necessário partir. Sair na direção das realidades que nos ausentam.

Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias… Hospitais, asilos, internatos… Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne, mas que de alguma maneira pode nos humanizar.

Andar na direção do outro é também fazer uma viagem. Mas não leve muita coisa. Não tenha medo das ausências que sentirá ao adentrar o território alheio. Quem sabe assim os seus olhos se abram para enxergar de um jeito novo o território que é seu.

Não leve os seus pesos. Eles não lhe permitirão encontrar o outro. Viaje leve, leve, bem leve. Mas se leve.

Por Padre Fábio de Melo

:::::

Perfeiçao define esse texto e pra nao estragá-lo, hoje eu só vou dizer “bom dia, chicas!”
disclaimer_pfpalette
Fê La Salye
Comente Aqui!
Comentários

0 comentário em "PF Palette – 16/ago/13"
  1. Dani Castelucci de Medeiros   16/08/13 • 12h49

    Texto lindo… mesmo não sendo católica eu adoro esse padre, ele tem cada pensamento inspirador!! As malas tão pesadas vêm mesmo do nosso medo e do nosso apego – eu até escrevi sobre o apego um dia desses. Somos muito presos ao que é material, e a ideia de estar em companhia só de nós mesmos traz muito medo e ansiedade. Lindo!! :)

    • pigmentof   16/08/13 • 12h57

      Também nao sou católica mas admiro os textos dele. Servem pra todo mundo, independente de religiao. Bjs

Anterior
Próximo
Voltar para a home