21 nov 2013

PF Palette – 21/nov/13

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Há uma tristeza em nós que sobrevive às maiores alegrias. Todo mundo sabe disso. Freud, Shakespeare, Paulo Leminski. Um dia, inevitavelmente, os neurocientistas irão localizar, com ajuda de ressonância magnética, o vão do cérebro que permanece cinza mesmo no auge da euforia e no ápice da paixão. Então saberemos, com rigor científico, o que sempre soubemos: que a sombra e a melancolia são partes inseparáveis de nós.

Ter isso claro ajuda a entender o que nos passa. Ajuda a compreender nossos humores estranhos. Ajuda a entender uma tarde sombria no auge do verão. Ajuda a aceitar uma noite em claro, o silêncio no meio da festa, a vontade irresistível de chorar ouvindo uma canção no rádio. Também somos assim.

Às vezes temos sonhos de abandono em momentos serenos da vida. Neles, a pessoa que a gente ama vai embora, nos vira as costas, torna-se repentina e irremediavelmente inacessível. A gente acorda de um sonho desses com a alma turva, tomado de desconfiança. Olha cheio de ressentimento para a outra, adormecida ali ao lado, e se pergunta: por quê?

Não acho que exista uma resposta, mas eu tenho uma teoria.

A mim parece que a natureza nos dotou de alarmes. De quando em quando, um deles dispara para nos lembrar, realisticamente, que não há bem que sempre dure. É como se algo em nós dissesse (através do sonho, da inexplicável melancolia, de um pressentimento repentino), “Por favor, não se acostume. As relações não são eternas, a vida não é simples, a dor é inevitável.” Algo em nós avisa que a tristeza faz parte da vida.

Muita gente não está interessada, claro. A moda é parecer feliz e bem-sucedido. Tem mais de um rei do camarote dando pinta por aí. Mas essa fachada social sorridente precisa ser posta de lado na intimidade – ou a intimidade não existe. No aconchego de uma relação verdadeira, tem de haver espaço para os nossos medos, as nossas falhas e as inconfessáveis inseguranças. O lado B da alma humana precisa aparecer, nem que seja no escuro. Sem ele a gente não se entende, nem entende o outro.

Isso não cabe na trama das novelas, mas pessoas de verdade têm sonhos e dias ruins. Gente de carne e osso frequentemente parece incompreensível. Certas manhãs, elas nos olham com tanta tristeza que dá vontade de escrever um poema, de abraçar apertado, de segurar pelas bochechas e dizer “Eu sei como é. Eu estou aqui”. Talvez nem adiante, mas faz parte. Estamos nesse mundo também para nos consolar mutuamente.

Por isso acho bacana respeitar minha tristeza e a dos outros. Ela faz parte. Nos livra da idiotia de um sorriso permanente. Nos coloca em harmonia com um mundo nem sempre gentil. Reflete algo de profundo e inexorável da nossa biologia. No final das contas, é parte de nós. Como a alegria. Se não ligarmos para ela durante o dia, virá nos visitar durante a noite, num sonho – do qual sairemos de olhos molhados e sozinhos, até que um abraço nos resgate.

*Texto: Ivan Martins

21nov13Toma aqui o meu abraço. Bom dia!

 

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Comentários

3 comentários em "PF Palette – 21/nov/13"
  1. Daniella Castelucci de Medeiros   21/11/13 • 13h04

    Eu tenho um lema que me ajuda a passar por tudo. Alles wird vorübergehen – tudo passa. O bom, o ruim, a alegria, a tristeza, o prazer, a dor. Isso me ajuda a dar menos ouvidos para a melancolia fora de hora. Mas não ajuda a evitá-la :) bjos querida!!

  2. Pigmento F   21/11/13 • 13h07

    Eu também tenho e sao dois: Attraversiamo (muito bem aprendido com o livro "Comer, Rezar e Amar" e "Eu me desobrigo", mas esse eu nao vou explicar agora porque essa conversa me deu ideia para uma outra palette ;) Bjs

  3. Daniella Castelucci de Medeiros   21/11/13 • 13h10

    hahaha gostei, então vai ter Palette fresquinha com lemas de vida ^^

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