Trabalho com blogs há muitos anos. Tive a benção de trabalhar na minha área (publicidade) desde a faculdade, então se você considerar que já estou na casa dos 30 há um tempo, vai ver que já tem uns bons anos que lido com marketing digital, desde quando o universo dos blogs era algo bem novo.
Por ser publicitária eu peguei aquele começo em que as marcas começaram a olhar para os blogs como mídia, então antes de ter o meu próprio blog eu já avaliava blogs para meus clientes anunciarem. Em pouco tempo as marcas foram substituindo celebridades por rostos de blogueiras em suas campanhas, anúncios de revistas por publieditoriais, comerciais de tv por vídeos no canal de algum Youtuber, spots em rádios por banners na home de um site.
Ver que um hobby se tornou a profissão de muita gente acabou trazendo para a internet pessoas que nunca haviam pensado em viver de conteúdo e como em todas as áreas que se destacam, em pouco tempo aumentou a concorrência e diminuíram as chances de ter um espaço realmente diferenciado no www.
Conteúdo virou commodity. Não foram apenas os blogueiros que encontraram nos textos uma forma de contar boas histórias ou de atingir um público de uma forma diferente. Aos poucos o marketing foi ensinando que um vendedor de ferramentas deveria investir em conteúdos interessantes através de uma página atraente no Facebook, de uma boa foto no Instagram, de um texto chamativo no Twitter, de um vídeo inusitado no Youtube e até através de um espaço no site das tais ferramentas para os clientes deixarem suas resenhas, digo, opiniões. Ou seja, o mercado saturou e o blogueiro passou a concorrer não apenas com colegas de profissão mas com todo mundo que entendeu o que é comunicação.
Fora esse contexto, se você analisar os blogueiros que com muito esforço e talento chegaram aonde chegaram, vai perceber que a maioria já não escreve mais em seus blogs. E isso não é uma crítica, é apenas a constatação de que o que realmente paga a conta desses profissionais não é um publieditorial, nem um vídeo no Youtube, nem uma peça publicitária no site mas sim o fato de terem se tornado uma personalidade, um Digital Influencer, uma celebridade se preferir chamar assim, alguém em que o carisma, a popularidade e a imagem valem mais para uma marca do que um conteúdo no blog.
Em outras palavras, fica cada dia mais difícil viver de blog porque no mundo dos negócios traz mais retorno quem pode oferecer muito mais visibilidade. Uma marca vai pagar muito a quem pode dar um retorno 3, 6, mil vezes maior e vai oferecer nada ou quase nada para iniciantes (troca de links, um texto que ele já tem pronto para você publicar no seu blog, mas dinheiro mesmo…). Não é balde de água fria, é realidade comercial.
Por que resolvi falar disso hoje na coluna Sucesso Digital?
Porque eu recebo muitos emails de gente querida que acompanha meu blog e que se interessa pelas curiosidades do meu outro trabalho que é o marketing digital, que estão começando um blog e que se sentem motivadas a fazer disso uma profissão, inspiradas por blogueiros que elas viram chegar ao sucesso, afinal, se uma receita deu certo porque não pode continuar dando certo, não é?
Sim, a receita do bolo pode continuar dando certo mas o resultado será o mesmo bolo e ter mais um não gera diferencial. É preciso incrementar a receita para fazer com que haja interesse por parte dos potenciais clientes em sair do clássico que gera resultados para um sabor novo, e isso não é algo simples. As exigências aumentaram, o mercado inflou e é preciso ter consciência disso. Seu conteúdo, suas fotos, sua imagem, seu texto precisa ser superior ao que já se vê por aí e isso exige investimento, conhecimento, dedicação e não sorte. Pode ser que você crie um blog e daqui um tempo seja a próxima Camila Coelho ou Thássia Naves – poderia citar muitos outros profissionais que merecidamente conquistaram esse espaço – mas até lá vai precisar de um plano B, de algo que não seja mais do mesmo, de estudo, de bons cursos para se diferenciar no meio e de um emprego para fazer tudo isso acontecer.
Enquanto isso, faça o que eu disse neste post aqui: use seu blog como um currículo que abrirá portas que você jamais imaginou dentro da profissão que você já tem e crie um blog por amar compartilhar aprendizados porque propostas de trabalho envolvendo conteúdo digital tendem a ser mais raras para quem ainda não chegou num patamar realmente rentável para uma marca.
Existe a Gisele Bundchen e também existem outras milhares de modelos que fazem um grande trabalho hoje e passam meses pensando em como vão pagar as contas. Existe a Fernanda Montenegro e existe um monte de artista talentoso animando festa infantil porque é difícil ser chamado e aprovado num teste desafiante. Não entre para a blogosfera sem lembrar disso.
Fer, adorei o post! É muito esclarecedor para quem curte saber sobre os bastidores de qualquer profissão. E uma avaliação importante das dificuldades atuais.
Beijão :*
@16ade
Adélia, esse esclarecimento é muito importante, principalmente entre os mais jovens que até cogitam não fazer uma faculdade para viver de blog. Que bom que gostou. Bjs
Um dos posts mais sensatos que já li sobre o assunto, Fê! Sou jornalista concursada de um órgão federal e, para lidar com a minha paixão pela escrita, pela produção textual e pela comunicação (criatividade no serviço público é raridade, tá?! Hahaha), resolvi criar o blog. Sou infinitamente mais feliz com ele, mesmo não me dando a estabilidade financeira do meu emprego, mas como você mesma disse, é preciso pagar contas e esse reconhecimento do mercado de mídia digital não vem tão rápido. Pode ter vindo algum dia, mas não é mais a regra do jogo. Acredito muito na volta do blog pessoal, com aquela personalidade no texto, sabe?! Há muito do mesmo e , obviamente, não há espaço para isso nem na mídia nem na vida. Você, por exemplo, tem diferencial e faz por merecer todo o reconhecimento do seu trabalho. Acho que esse é o caminho… Parabéns pelo texto e pelo blog! Beijo
Jéssica, muito obrigada! Resgatar os blogs pessoais é algo muito bom e se dedicar a eles por amor também. Assim como em qualquer área da vida, nem todos conseguem ser a cereja do bolo mas fazendo algo diferente dá para ser parte da festa. Fico feliz em saber que ofereço algo diferente e que goste disso. Beijos!