Você já precisou resgatar sua identidade? Eu já! Estou nisso há 1 ano e meio e tem funcionado. Em determinado momento eu percebi que eu havia me convertido en uma sombra. Minha voz, meu jeito, meu sorriso, meu estilo de ser estava completamente apagado. Sem perceber fui confundindo a renúncia que é tão necessária em qualquer coisa na vida, com se anular. Até que um dia o psicológico não aguentou porque sentiu falta da Fernanda que é intensa.
Eu já nasci intensa. Nasci lutando pela vida após 14 horas de trabalho de parto e um diagnóstico de epilepsia. Minha infância foi marcada por crises convulsivas, conversas engraçadas ao lado do violão do meu pai, muita música e um misto de pobreza material com riqueza espiritual. Na minha casa o pão era contado mas a fé sobrava e era compartilhada.
Desde pequena eu me expressava através da escrita e da música. Ganhava todos os concursos de poesia e de redação da escola. Cheguei a ter um caderno com mais de 300 poesias e crônicas. Quando a voz faltava, era a escrita que fazia todo mundo ouvir o que eu queria dizer e eu sempre disse muito e do fundo da minha alma. Sempre fui de falar muito. Desconheço desde pequena o que é ter medo de se expressar, de emitir uma opinião. Nos grupos de trabalho escolar, todo mundo sabia que podia deixar a apresentação comigo porque eu ía adorar. Gosto tanto do poder da voz que até fiz locução e dublagem. E de repente eu tive insegurança pra escrever, pra me comunicar. Me “escondi” atrás de vários @ como pigmentof e até mesmo bloglavida.
Me “escondi” atrás de @ sem o meu nome porque escutei mais as pessoas que o meu instinto. As bem intencionadas diziam que eu devia me proteger da maldade que existe na internet. Os mal intencionados (e muitas vezes são as pessoas que mais confiamos), diziam que eu não deveria escrever ou gravar porque afinal, quem eu era na fila do pão, entre tanta gente com mais talento?
Mas eu aprendi uma coisa que talvez você precise aprender: tem gente que tem a necessidade de te ofuscar porque sabe o quão longe você pode chegar e te vê como concorrência. E não estou falando das pessoas do mesmo segmento que você, mas daquelas que fazem parte da sua vida e que não poderão conviver com a ideia de que talvez você chegue a brilhar mais que elas.
E aos poucos a menina que sonhou em ter um livro, foi deixando de escrever. Aos poucos a Fernanda que tinha tanta criatividade foi deixando isso de lado porque se deixou influenciar pelos que diziam que era tudo futilidades. Passou a falar de vida no exterior e de tantas outras coisas que ama mas deixando muitas outras de lado, porque se sentiu insegura numa área onde te dizem que você só pode falar/escrever de uma coisa só ou você não cresce.
Só queria deixar claro que como profissional de marketing entendo perfeitamente que nichar um conteúdo é sim uma das fórmulas do sucesso mas o equilíbrio também é. Nenhuma pessoa gosta ou é uma coisa só e você pode falar de outras coisas no seu trabalho sem fugir do foco principal. O que eu não estava percebendo era o quanto eu estava sendo manipulada para não fazer aquilo que eu sabia que era o certo, porque isso exigia ser completamente livre e intensa. Exigia ser eu mesma, algo que por algum tempo eu deixei de ser.
Foi quando Deus e a própria vida se encarregaram de me despertar. Desde 2012 (quando o blog começou), a minha visibilidade foi crescendo mas como não foi da forma habitual pra quem trabalha nesse meio, eu não percebi.
Em todos os lugares que eu trabalhei no Chile o RH sempre me entrevistou com o meu canal e blog abertos e raramente com o meu cv nas mãos. Eu chegava pra entrevista e as pessoas diziam: “Olha, é a Fernanda La Salye”. O meu trabalho na internet fez eu ter um nome respeitado em todas as empresas que passei, empresas muito conhecidas, inclusive. Nunca fui a criadora de conteúdo em que a internet se tornou sua empresa e sim a especialista em marketing digital que levou sua experiência pra internet e ganhou ainda mais visibilidade na sua área. Trilhei o caminho inverso e consegui o meu sucesso de outra forma e por isso nem todos conseguiam ver que eu estava crescendo. As pessoas se acostumaram com as “receitas de bolo” e se o seu bolo tem outra cara, pra elas você fracassou.
Passei o ano de 2012 escrevendo e criando pra meia dúzia de pessoas (literalmente) e 1 ano depois meu blog tinha 10 mil acessos mensais. E de repente eu tinha um Instagram com 15 mil pessoas engajadas, um YouTube com mais de 100 mil seguidores e mais de 8 milhões de visualizações. E o público engajado com tudo: desde Vida no Exterior até Desenvolvimento Pessoal e Superações. Ainda assim eu não entendia alguns sinais, até um ladrão deixar tudo muito claro. Em julho/2020 meu perfil aqui no Instagram foi hackeado e deletado. 8 anos de trabalho perdidos, certo?
ERRADO! As pessoas começaram a sentir minha falta. Criei um perfil novo e todo dia chega mais gente . E por não ter o @ de antes disponível, só me restava usar o meu nome. E de repente, TUDO MUDOU DENTRO DE MIM E PRA MIM. Esse simples ato liberou a última coisa que eu precisava de coragem pra assumir: a minha real exposição na internet. Quem me hackeou queria me calar e teria feito isso se tivesse sido na época da Fernanda insegura. Mas errou o timing. Na tentativa de me esconder, me colocou num palco, me passou um microfone e ecoou meu canto guardado no peito.