PF Palette – Primeiro viva, depois arrume

Toda qualidade tem uma linha muito tênue entre virtude e defeito. É tão tênue que fica muito difícil perceber quando deixou de ser algo bom e virou algo escravizante.

Eu sempre fui reconhecida por uma qualidade: perfeccionismo. Para mim não basta ser bom, precisa ser excelente. No meu trabalho ou em qualquer coisa que eu faça, a minha meta sempre é superar expectativas sem deixar a desejar em nada.

Isso teve o seu lado bom. Me fez uma pessoa super organizada, capaz de administrar bem horários e vários trabalhos (me refiro ao emprego, blog e outras fontes de renda) ao mesmo tempo e com a mesma qualidade; me fez sempre buscar o melhor em tudo, a querer conhecer mais, a estudar mais, a ler mais e a motivar outras pessoas a acreditarem que também podem fazer algo mais por elas mesmas.

Mas em contrapartida, também me causou algumas dores. Demorei para reconhecer que um bom resultado pode ser um ótimo resultado sem que pra isso, precise ser excelente. Demorei para aprender a não criar expectativas e a não cobrar tanto de mim. Demorei para aceitar que nem sempre uma pessoa perfeccionista é uma pessoa prática e num mundo que trabalha na velocidade da luz, isso pode sim ser um grave problema profissional. Demorei para aceitar que alguns hábitos perfeccionistas deixavam tudo como eu queria, mas me deixavam extremamente cansada também. Demorei pra aceitar que o meu perfeccionismo tinha uma linha muito tênue entre a virtude e o defeito.

De certa forma, isso acontece com muita gente. Com alguns mais, com outros menos. Mas acontece muito.

Todo mundo conhece alguém que é excelente no trabalho, que conhece tudo sobre o que faz e sobre a empresa, que tem ideias muito boas para alavancar um projeto, que é extremamente organizado e competente no que faz; mas que em 90% dos casos, não tira férias e não chega cedo em casa porque isso o impediria de continuar fazendo um trabalho perfeito.

Todo mundo conhece alguém que deixa a casa brilhando, onde nada fica espalhado, onde panelas são verdadeiros espelhos mas que em 90% dos casos, não aproveitam os momentos em casa, com a família ou se que se quer se dá ao luxo de curtir completamente o que limpou, pelo simples fato de que se parar para aproveitar, tudo pode virar um caos de novo.

Todo mundo conhece alguém que trabalha muito para dar o melhor aos filhos, que se preocupa em colocá-los em uma ótima escola, em que aprendam um novo idioma, que garante que brinquem nos horários permitidos, que faz questão de que sejam educados, que provê comida, roupa, banho, segurança, saúde e tudo o mais para que sejam felizes; mas que em 90% dos casos não consegue curtir a vida com os pequenos enquanto crescem.

Se você tem um grau de perfeccionismo, não importa em que área da sua vida, saiba que assim como eu, você precisa aprender a tirar o pé do acelerador.

Você pode sim continuar sendo um excelente profissional mesmo saindo para almoçar, ou chegando cedo em casa para aproveitar o descanso e a família e até tirando férias. Menos é mais.

Você pode sim ter uma casa limpa e organizada, sem precisar ficar passando pano no chão 24 horas por dia e desinfetando tudo a cada minuto. Você pode inclusive dormir mais cedo para aproveitar a sua cama e deixar a louça na pia para o dia seguinte. Ninguém vai te julgar por isso, acredite! Menos ainda é mais.

Você pode sim ser um pai perfeito enquanto aproveita para brincar com eles ou apenas para escutar o que dizem. Todo mundo diz que conselho de paternidade, só pode dar quem é pai. Eu discordo. Eu acho que em todos os casos, ouvir os dois lados é sempre muito enriquecedor. Filho também pode aconselhar muito e dizer o que ele sente falta e na maioria das vezes, ele prefere ter você do lado do que as coisas que você proporciona para ele, mas que não aproveitam juntos. Nesse caso então, menos tempo focado em providenciar é bem mais tempo junto.

No fundo, perfeição é equilíbrio e não o fato de focar-se muito em determinado assunto. E a verdade é que o que define a vida não é o que você juntou, mas o que espalhou enquanto viveu. E viver vai mais além.

Bom dia!