16 jun 2014

Os amores que perdi por não tentar

LIFESTYLE > Resignifica

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(Ela)

6am de uma segunda-feira. Acordo assustada com o despertador do celular e percebo que mal tirei a maquiagem antes de dormir e mais uma vez, a última coisa que usei no celular, foi o whatsapp, em conversa com aquela amiga que sempre tem paciência pra me escutar dizer que quero muito encontrar um grande amor. A frase se repete em tantas conversas que com certeza ela perdoou o fato de eu ter dormido de repente sem nem dar tchau.

Melhor eu me apressar.  Não é tão simples para uma mulher decidir em 30 minutos que roupa usar para ir ao trabalho, sem consultar o clima tempo, o horóscopo, Deus e todos os santos, numa cidade que faz as 4 estações num mesmo dia. Fica ainda mais complicado quando o seu cabelo acordou contra você e a única maneira de recuperar a dignidade, é se maquiando no metrô, se eu conseguir 5cm de espaço entre o meu rosto, o vidro da porta e todas as pessoas ao meu redor.

Sem saber se combinei bem cada peça, pego a bolsa, o celular, mordo as pressas um pedaço de pão e me atraso mais 10 minutos procurando a chave de casa que já estava na minha mão.

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Finalmente chego na plataforma do metrô. Aquele empurra empurra sempre me faz perder a paciência e um bocado de fé na humanidade mas o que não tem remédio, remediado está. Enquanto brigo por um espaço e uma chance de entrar no trem, mais uma vez me deparo com o gatinho que trabalha na empresa ao lado da minha.

Ele é alto, tem um olhar compenetrado, está sempre bem vestido e com esse aperto dentro do metrô, sempre tenho a sorte de sentir o quão agradável é o seu perfume e o quanto fica ainda mais sensual com essa barba por fazer. Disfarçadamente e sempre que tenho a chance de pegar o mesmo metrô que ele, fico olhando o jeito como usa o celular, como fica feliz escutando música. Qual será a sua banda favorita? Será que ele tem o mesmo charme quando não use esse lindo terno preto? Com o que será que ele trabalha? Será que namora? Será que tem assunto ou é apenas mais um lindo de boquinha fechada? Já são pelo menos 4 meses com essas dúvidas. Um dia tomo coragem e chamo ele pra conversar, agora não dá, preciso descer urgente na próxima estação porque estou atrasada para o trabalho.

(Ele)

6am de uma segunda-feira. Acordo cansado, exausto do futebol de domingo e ainda sob efeito da ressaca que a cerveja entre amigos causa. Mas a minha sorte é que só entro às 8h00 no trabalho. Isso me permite 30 minutos a mais na cama e em seguida, um banho pra acordar e óbvio, pra fazer essa barba que já está fazendo aniversário no meu rosto. Mas pensando bem, mais valem 40 minutos a mais dormindo do que uma barba que pode esperar mais uns dias.

A roupa é o de menos. Para que um homem seja bem visto em uma reunião importante basta um terno e um nó de gravata bem feito.

Com sorte, encontro tempo para um rápido café da manhã. Mais café do que qualquer outra coisa porque preciso ficar bem acordado.

Todas às vezes em que chego no metrô eu tenho uma saudade enorme do meu final de semana. Esse monte de gente desesperada, tentando chegar ao trabalho e vestidos todos iguais, me deixa um pouco irritado. O trajeto fica um pouco mais agradável quando tenho a sorte de encontrar aquela moça que trabalha ao lado da minha empresa, aqui no metrô.

Ela é diferente. Está sempre bem vestida, cheirosa e com ar de que sabe muito bem o que quer. Adoro o cabelo sempre tão arrumado. Ela deve trabalhar em comercial de shampoo ou com beleza porque sempre encontra um jeito de fazer desse caos a sua penteadeira. Aliás, o que é aquele batom vermelho destacando a pele branca?! Eu preciso me concentrar quando ela passa batom ou posso perder o metrô.

Por sorte, ela sempre está no mesmo vagão que eu e isso me permite olhar pra ela mais um pouco, sempre com a desculpa de que estou usando o celular ou ouvindo música. Não gosto de “dar na cara”. E depois, vai saber se o namorado dela não está por aqui também? Moça linda desse jeito nunca está sozinha e jamais saíria com o carinha do metrô. Talvez até saísse, mas nesse exato momento eu tenho que descer, então eu pergunto outro dia.

(Ela)

Começo a trabalhar e finalmente sinto que a semana começou. Entre um email e outro me lembro do gatinho do metrô que trabalha aqui pertinho. Ele bem que poderia ser cliente da minha empresa para eu ter a sorte de encontrá-lo por aqui. Acho que eu teria coragem de finalmente demonstrar algum interesse.

Pensando bem, melhor não. Essa coisa de misturar trabalho com relacionamento não funciona com todo mundo.

(Ele)

Odeio essas reuniões que são marcadas no primeiro horário de uma segunda-feira. Com certeza meu chefe não se diverte aos finais de semana e por isso não sabe o quanto é difícil se concentrar em planilhas e falatórios a essa hora do dia.

Preciso pensar em algo mais interessante para não dormir mas a única coisa interessante que minha memória conseguiu lembrar pra me ajudar, foi a moça do metrô e o seu fascinante batom vermelho. Suspeito que ela trabalhe aqui perto porque sempre desce na mesma estação que eu.

Ela bem que poderia entrar nessa reunião agora. Certeza que eu me mostraria o mais interessado em tudo o que ela falasse.

Pensando bem, melhor não. Ou melhor que isso não aconteça hoje. Essa barba acabaria com qualquer ponto que eu tivesse no conceito dela. Se é que tenho algum.

(Ela)

Ao menos essa parte da manhã voou. Vou almoçar naquele restaurante de sempre com uma amiga. Fica bem perto do trabalho e assim não me atraso para voltar.

Escolhemos uma mesa com vista para a rua. Eu gosto de comer olhando as pessoas passando. Prefiro isso do que ficar olhando para a TV do restaurante. E vou te falar: dei muita sorte na escolha da mesa de hoje. O gatinho do metrô que trabalha aqui perto acabou de passar lá fora e está na fila do restaurante com os amigos. Muita sorte mesmo, comentei com a minha amiga. Vou aproveitar que ele está distraído com os amigos pra ficar olhando pra ele de novo. Ele tem um sorriso incrível e parece ser bem comunicativo e descontraído. Será que vai sentar nessa mesa vazia perto da gente?

OS AMORES QUE PERDI POR NÃO TENTAR 1

(Ele)

Preciso comer alguma coisa. Aquele café só serviu pra molhar o estômago. Vou chamar meus amigos para ir naquele restaurante de sempre. Já cansei de ir lá, porque nunca acontece nada diferente mas a comida é boa e de quebra tem a TV. Dá pra ver os programas esportivos.

A fila hoje é grande para entrar. Ninguém quer andar muito na segunda-feira, diferente da sexta onde todos queremos almoçar o mais longe possível do trabalho e gastar até os tickets que já não temos.

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Enquanto aguardo com os amigos na fila, percebo que a moça linda do metrô está lá dentro com uma amiga. Incrível! Essa batom vermelho dura mesmo e me não me dá outra alternativa se não seguir o movimento dos seus lábios enquanto conversa.

Minha sorte é essa fila grande. Enquanto estou aqui ela não vai notar que olho pra ela. Tomara que a gente sente naquela mesa vazia próxima a mesa delas e de frente para a TV. Assim eu posso fingir que vejo o programa enquanto tento olhar pra ela mais um pouco.

(Ela)

Adorei que sentaram ao nosso lado – conto para a minha amiga – mas como todo homem, seu único interesse nesse restaurante é na TV. Se os homens soubessem o quanto perdem por não olharem ao redor em um restaurante, não buscariam um lugar com TV logo de cara.

OS AMORES QUE PERDI POR NÃO TENTAR 2

(Ele)

Essa conversa com a amiga dela parece interessante – penso enquanto almoço. Ela  não desvia o olhar um minuto. Mas pelo pouco que observei, ela é mesmo muito compenetrada. Deve ser um almoço de trabalho ou um assunto importante. Se as mulheres soubessem que um minuto observando quem senta ao nosso redor, em um restaurante, pode mudar tudo,  não conversariam tanto com as amigas.

(Ela)

Hora de encarar o metrô de novo e voltar para casa. Estou exausta! Tudo o que eu preciso hoje é de um banho, uns minutinhos no sofá, uma boa caixa de chocolates e dormir.

Mas antes de tudo isso, é preciso enfrentar o caos do metrô outra vez. Esse caos 2x por dia é insano mas ao menos hoje o mocinho lindo já está por aqui.

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Agora está com o nó de gravata desfeito, o terno nas mãos e sem ouvir música, mas mantém o mesmo sorriso feliz do começo do dia. Pra onde será que ele vai agora? Será que curte um cinema? Sera que toparia uma pizza? Será que me acharia oferecida se começasse a conversar e desse a entender que quero sair?

Pensando bem, esse cara lindo deve estar indo para a casa da namorada agora. Somente isso explicaria esse sorriso lindo nesse caos da plataforma do metrô. Deixa pra lá. Quem sabe amanhã ele não apareça de novo e eu finalmente fale com ele.

(Ele)

Chega de trabalho por hoje. Bora encarar o metrô caótico. Deixa eu ao menos tirar esse terno e essa gravata que me inforcou o dia todo.

Não sei o que isso quer dizer, não acredito em destino, mas a moça linda do batom vermelho está aqui outra vez. Incrível como tem um olhar tão compenetrado e profundo. No que será que ela tanto pensa? Pra onde olha exatamente? Será que vai pra casa agora? Será que ela curte uma cerveja no final do dia ou melhor eu chamar para um cinema? Será que ela aceitaria um convite pra sair? Porque uma coisa é fato: somos desconhecidos mas já não somos mais estranhos. Não é a primeira vez que nos vemos.

Pensando bem, deixa pra lá. Que ela não seja mais uma estranha pra mim, é fato mas talvez ela nunca tenha reparado em mim. Essa cara de “estou no mundo da lua” deve ter um motivo, deve ter até um nome. Melhor eu deixar isso pra lá e ir pra casa. Quem sabe amanhã não seja um dia perfeito para puxar assunto com ela?

Duas semanas depois…

(Ela)

Já tem uma semana que o gatinho não aparece no metrô e nem no restaurante. Minha amiga disse que viu ele descendo todos os dias umas 5 estações daqui. Espero que seja apenas nessa semana porque se for definitivo, vai ficar mais difícil revê-lo de novo.

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(Ele)

Hoje faz uma semana que estou nessa nova empresa. O metrô conseguiu ficar ainda mais caótico, ainda mais porque agora já não pego mais o metrô nos mesmos horários da moça linda de batom vermelho e muito menos trabalho na mesma rua que ela. Espero que um dia isso volte a acontecer. Eu deveria ter chamado ela pra sair há pelo menos duas semanas atrás.

…………..

A história não é real, eu apenas imaginei e escrevi, mas ela reflete bem o que acontece com todo mundo, todos os dias. Fico imaginando quantos amores já não perdemos por causa da pressa, por não olhar para o lado mas principalmente por achar que o outro jamais veria algo bom em nós.

 

 

Fê La Salye
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Comentários

4 comentários em "Os amores que perdi por não tentar"
  1. Bruna   16/06/14 • 13h39

    Que texto ! amei…me vi nessa historia acredita??! as vezes acho que ja perdi muitas oportunidades…as vezes penso que Deus sabe de todas as coisas e se nao aconteceu nao era p acontecer…e assim se passa metro,pessoas e o tempo…
    bjs Fe

    • fernanda   22/06/14 • 12h11

      Oi Bruna! Tudo bem com você? Pois é. Eu imaginei essa história mas a verdade é que ela é bem real pra muita gente. Bjsss

  2. Regiane   13/07/16 • 10h24

    Fê, sou sua fã! Amo seus textos leio tudo, e esse adoreiii acho que isso já aconteceu com todo mundo. Bjs

    • Fê La Salye   13/07/16 • 15h06

      Muito obrigada, Regiane! Com certeza todos já fomos vítimas de situações parecidas. Beijos!

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