Quantas pessoas eu posso ser? Me fiz essa pergunta ao rever fotos antigas e a primeira grande descoberta já é essa: as fotos nem são tão antigas assim (de 5 anos atrás) e eu já não tenho nada na minha vida atual que sequer tenha alguma ligação com todas as memórias dessas fotos.
Como nunca antes, ao rever estas fotos eu percebi grandes mudanças em mim através de pequenas coisas. Por exemplo, meu guarda-roupa já não é mais o mesmo. Não apenas porque comprei algumas roupas novas nesse período, mas porque perdi peso, me encontrei nesse novo corpo, descobri peças que me valorizavam mais, mudei o meu estilo sem mudar os meus gostos principais, passei a ter um guarda-roupa mais invernal do que tropical justamente porque nesse meio tempo eu também mudei de país, o que me obrigou a aprender a viver em outro tipo de clima.
Essa é outra coisa que mudou nestes 5 anos: eu já não sou mais a típica paulistana que usa um “tipo assim” a cada frase e que acha que um lugar que fica há 1 hora de casa pode ser considerado perto. Eu me tornei uma paulistana que agora vê em São Paulo um local para matar a saudade da família e que curiosamente se transformou em uma turista em sua cidade natal já que São Paulo também não é a mesma de 5 anos atrás, muito menos a mesma Sampa da semana passada. E sem que eu percebesse, o “tipo assim” foi trocado pelo “ya po” e o “cachai” que agora escuto diariamente pelas ruas de Santiago.
Também já não tenho os mesmos amigos. Alguns poucos duraram e espero que estejam comigo a vida toda mas a maioria seguiu a sua vida onde por alguma razão eu já não sou parte dela. E foi interessante constatar que nem todo mundo que sai da nossa vida é porque não gosta da gente, talvez simplesmente tenha ocorrido algum desentendimento que levou a uma ruptura natural e esse desentendimento nem sempre está associado a uma briga, às vezes é simplesmente a tradução literal da palavra: se afastam por não entenderem ou não se encaixarem na vida que nós criamos pra nós ou que eles criaram pra eles. Em outras palavras, é bem verdade que algumas pessoas estarão pra sempre conosco mas outras estarão apenas em uma fase da nossa vida porque é assim que tem que ser. Simples assim.
O foco mudou também. Eu continuo querendo me desenvolver profissionalmente e trabalho para ser uma referência no que faço mas já não quero nada que me prive a qualidade de vida, o fato de chegar cedo em casa, de conseguir passar tempo de qualidade com o meu marido e de juntos criarmos um filho. Diferente de alguns anos atrás, eu já deixei de achar que um casamento atrapalha a vida profissional. Hoje eu penso que um casamento – um bom casamento, leia-se: você feliz e seu parceiro mais feliz ainda com os seus sonhos – te ajuda a realmente definir o que te dá mais prazer e realização pessoal e quando você encontra essa resposta, todas as outras coisas ganham uma dimensão diferente mas igualmente feliz e produtiva.
Eu sempre fui uma pessoa apegada a minha família mas hoje eu vejo isso na prática. Me vejo apegada a eles em cada data comemorativa, em cada conquista deles ou minha, em cada coisa que faço e que minha consciência me faz ouvir a voz dos meus pais, mesmo que eles não estejam ao meu lado. Eu percebi que sou muito mais do que apegada, eu sou realmente uma extensão deles aonde quer que eu vá e isso me dá asas ainda maiores para estar em qualquer lugar, porque indiscutivelmente, eles vão mesmo comigo aonde quer que eu for.
Eu também já não leio os mesmos livros. Embora eu ame ler, eu olho para alguns títulos hoje e me pergunto o que me fez dedicar algumas horas dos meus dias lendo aquilo que hoje eu não leria por nada. Não porque não tenham sido boas leituras, mas simplesmente porque hoje, na fase em que estou, na Fernanda que me descobri, eles não despertariam o meu interesse de compra se me deparasse com eles em uma livraria, entendem?
Já conheci lugares que eu disse que nunca iria e que hoje digo que quero voltar mais um milhão de vezes.
Me dei conta de que hoje faço muitas coisas pelas pessoas e essas coisas estão entre as que um dia eu disse que nunca faria, assim como percebi que já não tolero mais muitas coisas que antes eu permitia que fizessem comigo. Acho que é tal da maturidade.
Me descobri capaz de fazer um bocado de coisas que há 5 anos atrás eu jamais faria e me vi mais forte do que imaginava ser em muitas situações. Em compensação, em muitas das que eu sempre pensei reagir numa boa quando acontecessem, eu não tive lá um resultado tão satisfatório. Descobri que sou mesmo uma caixinha de surpresas.
Há 5 anos atrás eu não tinha o Pigmento F, não tinha sequer a ideia de criar um blog público e de que estaria aqui agora, dividindo algo tão pessoal. Essa vida é mesmo louca.
Os aprendizados não param e eu poderia deixar esse texto maior do que ele já está mas a ideia do texto era mostrar como é louco perceber que podemos ser muitas pessoas ao longo da vida. É surreal imaginar que se existisse a possibilidade da Fê La Salye de 5 anos atrás passar na mesma rua que a Fê La Salye de hoje, talvez elas não se reconhecessem. Talvez elas não conseguissem ser amigas ou talvez eles se dessem ao menos a chance de dizer: eu sou você amanhã. Sei lá. E tem mais: a Fê La Salye dos próximos 5 anos pode achar as duas anteriores muito bizarras.
E aí me faço outra pergunta: Quando chegar a velhice, quantas pessoas eu terei sido? E você? Quantas pessoas terá sido quanto tiver a chance de contar aos netos sua história?
Eu não sei qual é a sua resposta porque não sei nem qual seria a minha, mas uma coisa eu posso te garantir: a vida passa, os sonhos se realizam e tudo se movimenta pra mim e pra todo mundo que escolhe diariamente o seu caminho. Algumas coisas acontecem porque planejamos, outras porque a vida nos obriga, outras porque vencemos o medo e muitas porque Deus quer. Por isso mesmo, não dá pra ter ideia de quantas versões de nós existirá ao longo da vida mas eu já aprendi que boa parte do que escolho hoje vai influenciar diretamente nisso então eu posso ao menos dizer que meu hoje têm me tranquilizado muito quanto ao desconhecido, eu só preciso cuidar bem do que tenho e o que não tenho, cabe a mim correr atrás e cabe a Deus decidir se vai me dar. O que não dá, mesmo que você queira, é ficar parado porque mesmo quando você toma a decisão de ficar parado, alguma outra coisa se move, então melhor que você permaneça em movimento. A sua versão final agradece!
A vida é uma eterna mudança,vctem razão, tempo virá para você,onde junto com a maturidade virá a fé,seja em que for,mas verás o mundo com olhos espirituais e,creia, terá s uma nova e diferente visão
boa sorte
Assim é pra todos nós né? Boa sorte pra você também.