Viajar é sensacional. Acho quase impossível que exista alguém que não goste de viajar. Essa experiência de fazer as malas e passar um tempo – seja um final de semana, dias ou até meses – em um outro lugar, afastado por um tempo da sua rotina e podendo conhecer e experimentar coisas noivas, é no mínimo revigorante.
E são muitos os motivos que impulsionam as pessoas a viajar. Pode ser uma pausa na correria da semana, alguns dias de férias, a possibilidade de fazer um curso em um lugar que dê uma valorizada no currículo, uma comemoração especial e até mesmo uma oportunidade de virar a página de uma história triste. Motivos não faltam.
Mas nos últimos tempos tem aparecido um outro perfil de viajante. São pessoas que resolveram deixar pra trás o seu trabalho, a sua casa e toda a sua rotina para passar meses na estrada. Pelos relatos que você pode encontrar na internet, vai perceber que a maioria se trata de pessoas que queriam uma experiência desafiadora. Algo que realmente as tirasse do comodismo ou que ao menos proporcionasse aquela sensação de estar fazendo o que se gosta o tempo todo e assim aproveitar melhor a vida.
Vocês sabem o quanto eu sou apaixonada por viagens, então não seria nenhuma novidade eu dizer que a ideia é bem tentadora pra mim. Isso de colocar uma mochila nas costas e sair por aí desbravando o mundo e colecionando histórias realmente mexe muito comigo. Com certeza me jogaria nessa aventura se existisse a possibilidade.
No entanto, alguns discursos atrelados a essa ideia me incomodam um pouco. Geralmente, quem se jogou nessa experiência que deve ser mesmo muito incrível, costuma dizer que estava cansado de passar o dia trancafiado no escritório, com rotinas bem chatas e exigentes, vendo a vida passar de uma janela de sala de reuniões sem saber qual é realmente o propósito da sua vida e sem fazer o que ama.
Todos estes argumentos fazem muito sentido pra mim no entanto, eles não devem ser vistos como algo que se aplica a todas as pessoas e muito menos com o fato de que, se a pessoa é feliz com essa agenda que acabei de descrever e nunca se viu deixando tudo pra percorrer um pedaço do mundo todos os dias; que ela seja acomodada ou que não viva intensamente a sua vida.
Há formas e formas de ser feliz. Há quem se sinta realmente vivo e realizado experimentando coisas novas praticamente todos os dias e há quem se sinta extremamente feliz, produtivo e grato por passar 8 horas por dia no escritório mesmo que tenha que enfrentar algumas horas de trânsito para chegar ao trabalho, se sentir útil e praticar os conhecimentos adquiridos. Há quem teve a oportunidade de deixar a rotina do escritório e ainda assim preferiu ter um home office, o que garantiu também a tão sonhada vida de unir o útil ao agradável.
Mas se ainda assim aquela vontade de deixar tudo pra trás persistir, vale lembrar que a realidade nem sempre permite certos sonhos, ou melhor, certos sonhos precisam sim de um quê de realidade. Não dá pra se jogar na estrada sem planejamento. Não dá pra conhecer lugares realmente incríveis sem dinheiro. Não dá pra achar que você vai estar hoje em Londres, amanhã em Bali e no final de semana na Austrália e que na primeira oportunidade de internet digna vai subir um post que vai bombar nas redes sociais contando a sua trajetória de causar inveja em qualquer um; se pelo menos nos 5 anos anteriores a essa decisão (porque guardar dinheiro e pagar contas ao mesmo tempo é um baita desafio) você não guardou dinheiro suficiente para se dar ao luxo de passar meses sem “bater cartão” em algum lugar.
Dá pra trabalhar em uma viagem como essa? Depende. Depende do país pra onde você vai, do tipo de visto, da exigência de cada país e de uma série de fatores. Mas voltar a ter uma rotina de trabalho em uma oportunidade como essa não seria um pouco incoerente analisando apenas a ideia de fugir do comum? E o sonhando desejo de trabalhar com o que se ama? Seria possível realmente trabalhar com algo assim em uma viagem que você não sabe por quanto tempo vai permanecer neste mesmo lugar? O subemprego te deixaria realizado? Estaria uma empresa, independente do ramo, disposta a contratar – ainda que temporariamente – alguém que não lhe dá garantias de até quando vai ficar? E mesmo sabendo que existem empresas assim, não seria melhor estar completamente prevenido para o caso dela não ter vagas pra você?
Pensando mais um pouco sobre o assunto… Já passou pela sua cabeça que viajar demais também é uma rotina e como toda rotina ela também terá as suas chatisses, desvantagens, preocupações e burocracias? Pode até ser que essa rotina seja mais leve que a antiga mas existirá uma rotina que você não pode ignorar.
O que eu quero dizer com tudo isso?
Que a ideia é sensacional e como eu já disse, eu faria se tivesse a oportunidade mas que realmente não é algo que todo mundo vai querer ou vai se sentir mais feliz fazendo.
Não é um ano sabático que vai me tornar uma pessoa melhor que as outras, menos acomodada que as outras, mais proativa que as outras e mais feliz que as outras. É apenas um estilo de vida e estilo precisa combinar com quem o escolhe.
Não é um balde de água fria em quem já está quase jogando tudo para o ar e muito menos um discurso recalcado de quem ainda não o fez. É apenas a tentativa de nos fazer refletir, algo que ultimamente já não temos mais o hábito de fazer.
É para reforçar que até a liberdade precisa ser planejada. Que é mais feliz quem se organiza, se planeja, se prepara para o desconhecido, mesmo se tratando de algo que nos desafia a sermos aventureiros. Aventura de verdade é aventura protegida, segura.
Esse talvez seja o post que você jamais pensou ler no meu blog, já que uma das pautas mais lidas aqui são as dicas para você colocar o pé na estrada. E é justamente por ter um público tão interessado nesse assunto que eu não poderia deixar de dizer isso: Não importa a decisão que você tomar pra sua vida, ela precisa ser consciente, planejada e realmente deve acrescentar algo bom. Ela precisa ser o resultado da sua felicidade. Ela precisa caber em qualquer realidade que você viva, seja na estrada ou no escritório.
Em outras palavras: não faça nada que não te gere satistação. Não fique muito tempo em um trabalho que não te dá prazer. Não passe a sua vida em um relacionamento que não te enche de alegria. Não coloque a culpa na rotina quando você mesmo escolheu encher a sua rotina de coisas que não suporta.
Viaje porque já está feliz e consciente de quem você é e o que sonha pra você. Escolha ser feliz em tudo ao invés de suportar qualquer coisa. Só assim viver fará sentido em qualquer estilo de vida. Não fuja da sua vida mas viaje nas suas escolhas, sendo elas em terra firme ou por aí. Porque não há clichê mais verdadeiro do que aquele que diz que ser feliz só depende de nós e sabe por que isso é uma verdade? Porque embora todos os que tenham dado a volta ao mundo tenham amado o desafio, todos um dia voltaram para as suas realidades. Todos eles sabiam que a viagem teria um fim e que no dia que isso acontecesse eles teriam que estar suficientemente preparados para dar um start em tudo o que pausaram, ou seja, trabalho, relacionamentos, metas, preocupações e por aí vai. Voltaram melhores do que quando começaram a viagem? Não tenho a menor dúvida e isso jamais poderá ser questionado. O ponto central deste texto é: a vida é o que fazemos dela e o quanto tiramos proveito de tudo o que nos rodeia, inclusive do que nos incomoda. Pegue a estrada e conheça cada canto desse mundo mas leve na bagagem o amor e alegria que você tem com a vida que você leva porque a sua vida é a sua eterna companhia e é pra ela que você volta todos os dias.
Amei!
Esse textonos faz realmente refletir! bjus Fe!
Que bom, Samantha. Como eu disse, adoro a ideia mas é preciso avaliar bem né? Bjs
Nossa, como sou apaixonada pelo seu blog. Os assuntos que você aborda me faz viajar ao mundo. Sou uma mulher sonhadora e um dos meus sonhos é viajar sem ter limites, sei que isso sai fora do meu contexto financeiro, mas sonho e sonho ne? Beijão pra você.
Muito obrigada, Denise! Fico feliz que goste. Se é o seu sonho, lute por ele. bjs