16 fev 2016

Existe vida virtual após o Facebook? R.I.P Internet

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Sabe quando você encontra um texto na internet que retrata exatamente o que você sempre pensou, que a única alternativa é trazer esse texto para o seu blog para que assim mais gente tenha a chance de refletir sobre o assunto? Este post é exatamente isso.

O texto abaixo foi publicado em outubro de 2015 no The Globe and Mail e traduzido pelo site Medium. Ele fala sobre o quanto as redes sociais idiotilizaram as pessoas e sobre como especificamente o Facebook conseguiu colocar todo mundo dentro de uma bolha, onde se acredita que o mundo virtual se resume a ele; além de matar todo o império de hyperlinks que o Google criou e colocar em risco a credibilidade da web e do jornalismo sério. Confiram o texto e no final deixo a minha opinião.

fim da internet

“No último mês de Novembro, saí de uma prisão Iraniana após seis anos. A notícia que mais me chocou após isso não foi a conquista do Presidente Barack Obama em reconhecer o direito do Irã a tecnologia nuclear pacífica, nem a morte do líder do partido NDP, tampouco o abrupto desaparecimento da embaixada Canadense em Teerã. Foi a morte da Web como eu a conheci.

Em meados de 2000, imigrei para o Canadá, e de um pequeno apartamento alugado em Toronto democratizei a escrita em minha terra-natal introduzindo, facilitando e promovendo os blogs.

Após o trágico ataque terrorista de 11 de Setembro de 2001, me peguei lendo diários online para entender o significado daquilo para americanos. Eu era um jornalista tecnológico no Irã e os blogs me ajudaram a me reconectar com os leitores de minha coluna diária em um jornal reformista Iraniano. Comecei meu próprio blog e ajudei muitos leitores do Irã a começarem o mesmo.

Um ano após esses acontecimentos, blogar ficou tão na moda no Irã quanto hoje em dia são os hipsters e suas barbas. Me nomearam blogfather (um pai dos blogs). Até mesmo a mídia estatal nutriu isso.

Voltando para Tehran em Dezembro de 2008, fui escoltado em um carro. Isso foi um mês após minha prisão, resumidamente, por minhas atividades na Internet. No rádio do carro eu ouvi sobre um concurso de blogs chamado “The Scent of Apple” para comemorar o Imã Hussein, o neto do Profeta Mohammed e a figura central do Islã Shia. Eu sorri, orgulhoso por aquele momento de blogfather.

Seis anos depois, em Novembro de 2014, fui perdoado pelo Aiatolá Khamenei e liberto da prisão de Evin. Desde então, vim a perceber que aquilo a que dediquei muitos anos de minha juventude se foi: muitos Blogueiros se moveram para redes sociais, transformando a blogosfera Iraniana em um cemitério.

O pior é que Mark Zuckerberg provou não ser um fã de links ou hyperlinks. Com o Facebook, ele não encoraja que você crie links. No Instagram, ele simplesmente os proibiu. Ele está espremendo o hyperlink, portanto, matando a rede de textos externos interconectada e descentralizada conhecida por World Wide Web.

O Facebook gosta que você permaneça nele. Os vídeos já são embutidos no Facebook, em breve, artigos externos também serão embutidos com o projeto de “Instant Articles” (Artigos Instantâneos). A visão do Sr. Zuckerberg é a de um espaço insular que consuma toda sua atenção — para que ele a venda para os anunciantes.

Agora, com aproximadamente 1.5 bilhões de usuários ativos mensalmente e um crescimento particular em lugares menos desenvolvidos, o Facebook é a Internet para muitos — 58% dos Indianos e 55% dos Brasileiros acreditam que o Facebook É a Internet, de acordo com uma pesquisa publicada pelo Quartz.

Para mim, um Rip Van Winkle de 2015, esse espaço linear, centralizado, passivo e de pro entretenimento, não é a Internet/Web que eu conheci. É algo muito mais próximo à Televisão. As consequências disso são graves.

Mais e mais leitores de mídias digitais estão migrando para o Facebook e cada vez menos pessoas visitam as páginas da Internet diretamente. Dessa forma a mídia digital e autores independentes perderam a renda proveniente de propagandas, e ainda assim, são coagidas a pagar para “Impulsionar” seus artigos no Facebook para que possam alcançar a sua real audiência.

A mídia digital foi forçada a gerar histórias tolas e “virais” para sobreviver, causando um golpe severo no jornalismo sério.

E talvez mais importante, como resultado dessa competição de popularidade, visões minoritárias cada vez engajam menos pessoas. Isso é particularmente alarmante em um mundo enfrentando a séria ameaça de grupos religiosos e nacionalistas radicais. O algoritmo secreto do Facebook tende a nos abastecer com mais do que já gostamos, reforçando nossos pontos de vista, enquanto reduz nossa exposição a ideias desafiadoras e divergentes.

A recente reestruturação corporativa do Google, para se focar em seus serviços de Internet é uma boa notícia para qualquer um que espere que a Internet seja qualquer coisa diferente da televisão. O Google construiu um império intelectual, mesmo que comercial, baseado no poder do hipertexto. Mesmo com sua busca pelo monopólio e desrespeito pela privacidade, ele ainda respeita os hyperlinks, uma lei básica da Internet. E ele tem a capacidade de por fim a essa perigosa tirania do “popular”.

Ainda não ouvi de Tim Berners-Lee, que inventou o World Wide Web (A Internet) para saber quão desapontado ele deve estar mas visitei o site do concurso “Scent of Apple” e descobri que agora eles apenas aceitam publicações do Instagram ou do Facebook — não mais blogs. É muita tristeza para este blogfather em Tehran.

Por mais que eu esteja feliz com o fim da guerra econômica injusta contra o Irã, após seus acordos nucleares com os poderes mundiais, me parte o coração a negação da Internet/Web, um dos produtos mais promissores da inteligência humana para nossos tempos conturbados.”

Minha opinião

Redes-Sociais

Já contei na coluna Sucesso Digital, o que você como blogueiro ou empreendedor precisa fazer para sobreviver no Facebook e uma das coisas que dificulta tudo isso é o algorítimo que ele usa, que além de não permitir que todos os que te seguem vejam as suas publicações, ainda faz com que cada usuário da rede consuma sempre o mesmo tipo de conteúdo, ou seja, ele dificilmente permite sair do comodismo. O Facebook literalmente decidiu o que mais de 1 bilhão de pessoas vai ler diariamente e isso eu aprendi não apenas com o blog mas por ser publicitária e trabalhar com conteúdo digital há mais de 10 anos.

Pare e pense: quando foi a última vez que você chegou a um conteúdo relevante sem passar pelo Facebook? Eu mesma tive que usar o Facebook para que a maioria chegasse a esse texto e todos os meus colegas de trabalho também vão continuar fazendo isso porque infelizmente, ruim com ele, pior sem ele.

E para quem trabalha com conteúdo na internet, é bem frustrante. Quantas vezes já desisti dos meus ‘textões’ sobre os mais diversos assuntos, os quais levo horas produzindo e pesquisando e que carregam fontes, um estilo de redação contundente seguido de apoio visual, por ter certeza que eu e apenas mais uma meia dúzia de gente vai ler. Aliás, muita gente desistiu no terceiro parágrafo desse post.

Hoje em dia, só sobrevive na internet quem tem um conteúdo de frases curtas, engraçado ou suficientemente sensacionalista para ser compartilhado por muita gente. Hoje em dia é comum que muitos dos que começaram em um blog façam apenas vídeos curtos ou de humor no Youtube e se não quiser se desgastar e ainda ter um público fiel, faz tudo isso no Facebook mesmo, onde cada like coloca na timeline do usuário mais do mesmo, evita que esse criador de conteúdo perca tempo criando algo elaborado e que o leitor perca tempo com outro tipo de coisa que ele pode até gostar, mas que ele só vai ter acesso se fizer uma busca fora do Facebook, já que em sua timeline só aparecem coisas que ele já demonstrou que gosta.

E assim todo mundo vive na mesma bolha, sem gerar discussões sadias, apenas polêmicas vazias e mal educadas, além de nos fazer pensar que o mundo se resume aquela pequena parcela de gente que segue as mesmas coisas que a gente por lá.

E não, não se trata de um boicote ao Facebook ou que vou deixar de estar nele. Também não se trata de desmerecer quem fez um trabalho brilhante e conquistou muitos seguidores independente do tipo de conteúdo. Esse post é apenas para lembrar que a rede social é apenas uma forma diferente de assistir televisão e não necessariamente de consumir conteúdo e que assim como os livros foram deixados para trás um dia, sites de conteúdo também foram quando não se adequaram.

O Facebook e qualquer outra rede social não são ruins e entretenimento faz parte da vida. Precisamos de alegria, de compartilhar fotos dos momentos felizes, de risos, de memes para uma boa gargalhada e dessa praticidade de achar que temos tudo em um único lugar. O problema está quando a nossa única fonte de atualização e consumo de conteúdo vem dele, quando inconscientemente passamos a acreditar que ele é a internet. E ainda há MUITO conteúdo relevante no Facebook, no Youtube e em várias redes sociais mas a questão é: com qual frequência você os visita?

E se você suportou toda essa quantidade de linhas mesmo sem concordar com elas, parabéns! Significa que ainda gosta de ler opiniões diferentes, de reforçar ou mudar de opinião após alguns longos parágrafos, que gosta da tv virtual mas que também entende que é preciso passar mais tempo fora da bolha.

Fê La Salye
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Comentários

5 comentários em "Existe vida virtual após o Facebook? R.I.P Internet"
  1. Sílvia Thompson   17/02/16 • 09h00

    Perfeito! Seria maravilhoso se as pessoas de fato chegassem ao final do texto. Eu estou me desapegado do Facebook, permaneço apenas pela agenda de aniversários. Acho uma boa ferramenta social mas não de verdade e confiabilidade. Cansei! Um beijo

    • Fê La Salye   18/02/16 • 18h38

      Sílvia, MUITO OBRIGADA por comentar. É exatamente isso. Ele é só uma diversão, não é conteúdo. Bjs

  2. Milena   27/02/16 • 15h59

    Adoro seus textos… não deixe de escrever :)

  3. Mariana   26/10/17 • 09h38

    Post maravilhoso! Traduziu em palavras muita coisa que eu pensava! Obrigada por seguir escrevendo e compartilhando conteudo!!

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