Já faz 6 meses que o nosso relacionamento acabou. Já passei a fase de não querer sair de casa, de ter o Netflix como único companheiro e de chorar até com comercial de tv.
Agora que a vida aos poucos tem voltado ao normal, sou capaz de analisar como eu era antes do nosso fim, antes de oficialmente você não mais fazer parte dos meus dias.
Antes do nosso fim eu era alguém sem memória pessoal, alguém que já tinha esquecido como era ter vontades próprias, sonhos exclusivos. Alguém que não se lembrava como era se sentir bem na própria companhia.
Antes do nosso fim eu era alguém que acreditava – e rezava fortemente para que isso fosse verdade – que meu amor, por ser tão grande, era suficiente para manter a nossa relação. Quanta frustração eu teria evitado se apenas lembrasse que um relacionamento é composto pelo amor e renúncia de duas pessoas e que amar por dois não basta.
Eu era alguém que postergava meus sonhos por acreditar que o que vivíamos era maior e nada deveria estragar isso. Enquanto isso, o “nós” era bem mais singular do que plural. Nossa relação foi o porto seguro que você precisava para conquistar tudo o que queria. O que pode ser melhor do que ter ao lado alguém que espera pacientemente o outro ser feliz enquanto ele não tem a liberdade de ser também?!
Uma pessoa sem autoestima. Era isso o que eu era antes do nosso fim. Eu achava que não seria possível ou ao menos não tão fácil encontrar outra pessoa em um mundo que supera 7 bilhões de habitantes. Aonde foi parar a minha sanidade?
Eu não acreditava em novos encontros, na possibilidade de me apaixonar por um novo sorriso, um novo toque, um novo olhar e de gostar de outros tipos de manias. Eu duvidava do meu poder de readaptação e de que o amor é realmente um sentimento capaz de se reinventar e não uma pessoa que quando se vai, leva com ela todas as chances de uma vida feliz novamente.
Antes do nosso fim eu simplesmente era. Não havia em mim nenhuma esperança de resgatar o nosso feliz passado, de me encontrar naquele frustrado presente e de ver um futuro que dizem que sempre está naquela luz no fim do túnel.
Mas hoje estou aqui, me olhando no espelho em uma segunda-feira pela manhã com os cabelos bagunçados, com a cara de quem se lembra da piada sem graça que ouviu antes de dormir e que ainda assim rendeu boas risadas, na ansiedade por tomar essa xícara de café que tenho nas mãos como se fosse um vinho gran reserva, rindo do quanto eu não sabia nada sobre mim, sobre nós e do quanto tudo o que me fazia chorar, hoje é até divertido contar.
Então achei que tinha uma dívida contigo e comigo e vim pagar contando o que eu deixei de ser e o que me tornei depois do nosso fim: alguém que é dono do seu caminho e feliz com sua essência e que entende que a única forma de ser feliz, sozinho ou acompanhado, é sendo completamente realizado como indivíduo.
Venho te contar não em forma de vingança e sem aquele sentimento mesquinho com que muitos são tomados ao terminar uma relação e sentem a necessidade de mostrar o quão bem estão sem estar. Veja bem, demorei 6 meses para fazer isso e assumo tudo o que sofri até chegar aonde estou.
Apenas decidi te contar isso para que mais uma vez você se sinta livre da carga, se é que ela te acompanha, de achar que destruiu a minha vida. Embora alguns vejam isso como um mérito, eu me sentiria a pior pessoa se alguém tivesse essa impressão sobre mim. Não, você não destruiu a minha vida. Você apenas fez com aquela tudo aquilo que eu, sem saber quem era de verdade, te permiti fazer. Isso não apaga os seus erros mas no fundo todo mundo dá o que tem e todo mundo só aceita aquilo que julga ser capaz e eu aceitei as condições por muito tempo.
Quem eu era antes do nosso fim morre hoje para que a pessoa que eu me tornei depois do nosso fim dê início a uma nova história. É uma pena não te ver nela mas talvez a única forma de eu ser uma pessoa plena só fosse possível sem você. Fica aqui o meu agradecimento por devolver a minha plenitude.
*Se trata de uma crônica e não de um relato pessoal.
**Imagem: Pixabay
Lindo e triste ao mesmo tempo, mas com certeza uma grande verdade. Algumas dores nos tornam pessoas melhores. Muito lindo texto, Fê! :)
Fê, tenho acompanhado suas dicas sobre o Chile para me preparar para minha viagem agora em julho mas não sabia de sua separação, dessa sua transição.
Lamento por tudo isso, já cheguei bem perto de me separar e sei o qto tudo isso é difícil e machuca, mas com certeza se não nos derruba, nos torna pessoas melhores e aprendemos a nos amar mais e melhor.
Já te curtia muito pelo que via de vc em seus vídeos e postagens, agora curto e admiro mais. Força sempre e que o melhor de sua vida ainda esteja por começar, e que seja tudo de bom pra vc, que merece, muito.
Obrigada por compartilhar seus conhecimentos, suas experiências, suas lutas e vitórias por aqui, nunca desista ou desanime de manter esse canal, com certeza está sendo muito útil para muitas pessoas que mesmo no silêncio por trás da telinha do notebook, do tablet ou do celular te admiram muito. Bjs.
Rita, muito obrigada por acompanhar meu trabalho e por desejar tanto a minha felicidade. Me comovi com o carinho. Como sei que se preocupa comigo vim apenas te tranquilar dizendo que se trata apenas de uma crônica e não de um relato pessoal como muitos leitores pensaram. No blog eu também escrevo crônicas com a finalidade de falar de temas do cotidiano. Narciso e eu continuamos juntos e felizes. Mais uma vez, obrigada! Bjs
“O que pode ser melhor do que ter ao lado alguém que espera pacientemente o outro ser feliz enquanto ele não tem a liberdade de ser também?!”Exatamente, nos permitimos a certos tipos de relação, e então, nos perdemos, deixamos nossa essência de lado para viver o outro. Até parece que escrevi essa crônica, que vivi tudo isso, mas passou….! é engraçado, sempre quis viajar para o Chile com meu ex-namorado, queria fazer planos para guardar dinheiro, e isso eram só meus planos, então, o relacionamento teve fim, e com ele finalmente consegui viajar para Santiago, é minha intuição estava certa, encontrei minha alma nesse país, rodeado de culturas que quero viver. Logo, quero o ano que vem viver em Santiago, trabalhar, experiências, falar fluente uma segunda língua, o que tenho certeza que vou conseguir. Hoje, posso dizer que encontrei a essência perdida em mim, e é tão bom se amar e fazer seus planos.
Lindo texto, obrigada por compartilhar. Bjs Fê.
É isso mesmo, Michelli. Precisamos lembrar que somos indivíduos antes de sermos uma relação. Uma coisa nao pode anular a outra. Bjs