Muito se pesquisa sobre o custo de vida de outro país quando a ideia é morar fora mas pouco se fala sobre o preço emocional que se paga ao fazer essa escolha.
Eu adoro morar fora, tem sido uma das experiências mais incríveis e de crescimento pessoal que já experimentei mas como tudo na vida, morar fora também tem um preço que vai além de dinheiro e que poucos conseguem dimensionar. É sobre esse tipo de preço que quero falar hoje.
Quando a gente resolve morar fora literalmente escolhemos um mundo à parte, um mundo que não tem como conciliar sua nova vida com a anterior.
Quando se decide morar fora se perde o nascimento dos sobrinhos, dos filhos dos amigos, às vezes você nem vê a gravidez dessa pessoa que você tanto ama.
Já não é possível ir a cada festa de casamento e aniversário e como se isso não bastasse, também é preciso se acostumar com o fato de que as pessoas deixam de te incluir na lista de convidados e claro, por razões óbvias.
Sua família e pessoas especiais se transformam em fotos, áudios e vídeos de WhatsApp; principalmente aqueles que você não tem como visitar quando volta ao seu país porque moram longe do local que você costuma se hospedar.
Você deixa de ser parte dos planos da família e se torna uma pergunta sem muita esperança: Será que estarão para o Natal? Mas se os incluo para aquela ocasião e não podem vir, eu perco dinheiro, né?
Quando se mora fora é comum conviver com a possibilidade de jamais voltar a ver determinadas pessoas. Lugares também mas pessoas principalmente. Sem perceber lá se se foi 1 ano, 5 anos, 10 anos sem ver fulano. Ele já se mudou, já terminou a faculdade, já casou, já tem filhos, já foi promovido no trabalho, já tem um novo círculo social.
E sempre chega o dia em que alguém vai embora de vez e você não consegue se despedir porque nem sempre dá para enfrentar um voo de emergência para ir a um funeral e mesmo que você consiga, talvez chegue bem depois. Você sofre de longe, sentindo a dor de não poder apoiar quem está sofrendo e sem receber o abraço que também precisa para fazer a vida seguir em frente.
Morar fora é ser o porto seguro que sua família era para você, é fazer o esforço de manter costumes, ensinamentos, rotinas e laços que você não quer perder.
Morar fora é construir uma família em uma realidade bem diferente da que você cresceu, diferente da realidade das outras pessoas da sua família, portanto nem sempre vai ser fácil eles entenderem seu contexto e suas escolhas e nem sempre a experiência deles vai servir pra você.
Você vai ter filhos que vão nascer e crescer distante dos avós, dos primos, dos tios… Seus filhos vão demorar alguns anos para conhecer todos os parentes e talvez eles nunca tenham com eles a intimidade que você tem. Você também passará a ser o tradutor dos seus filhos, porque mesmo que você fale seu idioma nativo em casa, eles vão crescer mais imersos no idioma desse novo país do que no seu. Como consequência, vão ter mais referências culturais desse novo país do que daquele que você nasceu. Seus filhos vão ter um contexto de vida e de infância bem diferente do seu e por isso a sua experiência com a maternidade no exterior é ainda mais desafiante do que já seria no seu país nativo.
Você vai transformar seus amigos nesse novo país na sua família, porque afinal são as pessoas mais próximas do seu dia a dia, eles passam a ser mais presentes que as pessoas do seu sangue. Por isso mesmo a vida fica bem solitária quando o tempo deles nesse país termina e eles vão embora. É mais uma despedida de vínculos que você precisa enfrentar.
Isso não quer dizer que morar fora é ruim, que é só tristeza, solidão e saudade. Talvez morar fora seja mesmo como a maternidade: cheia de desafios e momentos complicados mas que nem por isso você deixa de amar e curtir seu filho.
Mas assim como não se pode romantizar a maternidade, não se pode dizer que morar fora é só flores. É preciso estar consciente de que se paga um preço alto ao decidir ir pra longe, que se abre mão de coisas que nem em um post extenso é possível relatar. É preciso saber que muita gente não conseguiria passar por isso sem perder a inteligência emocional. É bem difícil sim ir embora e transformar um mundo desconhecido e um apartamento vazio em um lar.
É possível? Claro que sim! Mas não é de graça e também não é barato. Custa caro e por isso mesmo é preciso esforço para transformar essa experiência em um investimento, em algo valioso para se adaptar, fazer valer a pena e ao mesmo tempo manter vivo todos os laços que consideramos vitais.
O que conforta um estrangeiro é saber que tudo isso acontece por estar longe fisicamente. Muita gente passa por isso estando há apenas uma parede de distância de quem realmente faz a vida ter significado.
Que a sua escolha de morar fora seja apenas física, assim o dia a dia não vai te impedir de seguir morando dentro daquilo e de quem te faz feliz. Mas nunca subestime o valor dessa decisão. Ela é cara sim!
Me emocionei, Fê! Vc conseguiu transmitir com muita verdade e exatidão o que sentimos ao decidir morar fora, é realmente assim! Parabéns pelo texto e obrigada pela reflexão ;) Saludos desde Villarrica 😙
Eu acho a parte emocional a mais difícil. Sinto que posso estudar qlq coisa, conseguir um bom emprego, conquistar as coisas materiais que almejo mas a saudade da família, dos amigos, de ouvir meus sertanejos (Evidências com outra pessoa que saiba oq simboliza esta música para nós), sentar em uma roda de brasileiros e me sentir parte, identificada… estas coisas não tem preço.
Fico encantada com seus textos, mas esse…. realmente pegou bem fundo. Me emocionou, pois em meio a tantos motivos para tomar essa decisão tão importante, esse valor muitas vezes nos faz pensar um pouco mais. Super beijo.