Eu tenho dificuldade para me lembrar como era a vida antes da internet e das redes sociais. Quando eu comecei a trabalhar elas já existiam e já faziam um bem enorme a quem queria ganhar tempo e dinheiro, ainda mais no meu caso que sou publicitária, onde viver da internet é essencial.
Sou dessas que o celular fica na mão o tempo todo, que está em todas as redes sociais possíveis, que interage em todas elas, que ama descobrir novos aplicativos, que curte o fato de poder falar com o mundo, ainda mais depois de decidir morar fora do Brasil e de já não ter como ver as pessoas que amo sempre que a saudade resolve dar as caras.
Então eu não critico a internet e muito menos as redes sociais. Eu não sou capaz de negar o bem que elas me fazem e o quanto são presentes no meu dia a dia. Mas eu sou daquelas que vira e mexe gosta de observar comportamentos e de refletir como anda o meu próprio comportamento em relação aos outros.
Esses dias fiquei observando alguns amigos solteiros usando o Tinder, o app que caiu na graça de muitos que procuram alguém para sair ou para algo sério. Alguns desses meus amigos e amigas são tímidos, então digamos que o app foi uma ajuda e tanto para iniciar uma conversa, que num primeiro momento ainda não exige um contato pessoal. Alguns se deram bem mas outros ainda continuam na busca por alguém que atenda os seus requisitos.
Mas tirando a galera tímida, tem um outro grupo de amigos que usa o aplicativo e que de tímidos não possuem nada mas que encontraram dificuldades de estabelecer uma conversa mínima com a outra pessoa quando a conversa saiu da tela do celular para o contato real, aquele que exige o olho no olho, um sorriso, um papo divertido, descontraído.
Sempre se fala do quanto é errado criar expectativas com relação aos outros porque é o primeiro passo para a frustração, mas como se ver livre disso quando a pessoa é tão feliz e agradável no Facebook mas nada comunicativa pessoalmente? Como se apaixonar por uma pessoa que é a mais agradável no WhatsApp mas que pessoalmente não consegue construir uma frase que te faça associá-la com aquela pessoa que sempre tem o melhor a dizer – com a ajuda de emojis – quando você está triste, a melhor piada para levantar o seu humor e o melhor vídeo para curar o tédio daquela reunião chata? Como não se descepcionar com aquela pessoa sensacional dos vlogs mais famosos do Youtube mas que pessoalmente não sabe extrair de nós um sorriso, um abraço e até uma vontade de seduzir? Como dar uma segunda chance a alguém que tem o perfil com mais likes nas fotos do Instagram, mas que não desperta a curiosidade do outro de conhecê-lo melhor por não saber desenvolver uma conversa “sem filtros”?
Não, o problema não são as redes sociais mas quem somos quando estamos fora delas. O problema não é a minha “coragem” em dizer tudo o que penso virtualmente, o problema é a minha total ausência de coragem diante da vida real, das pessoas que aprenderam a viver nela. O problema não é a minha timidez ou os meus medos. O problema está quando eu crio uma pessoa super interessante virtualmente mas que não tem força, vontade ou carisma suficiente para sustentar relações fora de um login no www.
Tem muita coisa interessante e útil na internet (o contrário também é verdade) mas nada disso é vida real. A melhor rede social ainda é uma mesa de bar cheia de amigos e que de preferência não usem o celular quando estão juntos. A melhor oportunidade de uma boa conversa ainda é aquela que é feita sem precisar ficar procurando feito louco um wi-fi. As melhores sensações ainda são aquelas provocadas pelo toque, pelo abraço, pelo riso audível, pela atenção que se dedica a alguém sem ter que competir com várias pessoas teclando ao mesmo tempo.
Como voltar a ser uma pessoa real e bem menos virtual? Ainda dá para viver sem precisar imitar a vida? Ainda é possível se encontrar para um café ao invés de agendar um Face Time? Ainda dá para encurtar as distâncias e as desculpas que arranjamos para conviver?
“Há tanta vida lá fora”, já dizia a música. Que tal se a gente tentar sair da zona de conforto – e do vício – para encontrar vida plena no que é real?