21 ago 2015

Morar no Chile – Como é o sistema de Saúde

MORAR FORA > GUIA PARA MORAR NO CHILE

 

Tenho um post mais atualizado, inclusive com vídeo. Clique aqui

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Faz tempo que me pedem dicas sobre como funciona o sistema de saúde no Chile. O sistema é tão diferente do praticado no Brasil que passei meses dando voltas e voltas no assunto para tentar explicar aqui para que ficasse suficientemente esclarecido. Não sei se consegui mas dei o meu melhor. Que fique claro que eu não sou uma consultora de saúde, muito menos uma consultora para estrangeiros, embora muita gente me veja assim. Eu tento apenas ajudar mas nunca serei capaz de responder todas as dúvidas que só um profissional na área conseguiria. Vamos lá!

No Chile existem 2 sistemas de saúde: Fonasa, que é a rede pública e Isapre que é a rede particular. Todo cidadão é automaticamente inscrito ao sistema de saúde pública, ou seja, ao Fonasa. Apenas quando ele decide ter um plano de saúde particular, é que essa cadastro é modificado.

Sobre a Contribuição Obrigatória

Todo cidadão, seja chileno ou estrangeiro, tem 7% do seu salário mensal descontado e destinado para a saúde. É uma lei, não há como fugir dela.

Sobre a Saúde Pública

O sistema Fonasa – Fondo Nacional de Salud, é o SUS do nosso Brasil com uma considerável diferença: ele não é gratuito. Aliás, tudo o que conhecemos no Brasil como gratuito, no Chile é pago. A filosofia local é: para que algo funcione, algum recurso – ainda que pequeno – deve ser empregado, ou não vai funcionar. Isso significa que além da contribuição de 7% mensal já mencionada, você vai pagar uma porcentagem por cada procedimento que realize: consultas médicas, exames, cirurgias e etc. Essa porcentagem, no caso da saúde pública, é determinada de acordo com o grupo de classificação que a pessoa esteja. Aqui estão os grupos:

  •  Grupo A: Formado por pessoas sem nenhuma condição financeira e que comprovem uma situação de pobreza extrema. As pessoas desse grupo são atendidas de forma gratuita.

 

  • Grupo B: Formado por pessoas que possuem uma renda mensal (que também pode ser conhecida como ingreso imponible) igual ou inferior a 165.000 pesos chilenos. Na hora do atendimento, é feito um cálculo para dizer qual a porcentagem que essa pessoa vai pagar pelo atendimento. Exemplo: se a consulta custou 30.000 pesos, pode ser que ela pague apenas 5.000 pela consulta. Pessoal, é apenas um exemplo para que entendam como funciona ok?

 

  • Grupo C: Formado por pessoas com um uma renda mensal (ou ingreso imponible) maior que 165.000 mas não superior a 240.900 pesos chilenos. Esse grupo também paga uma porcentagem para cada procedimento que realize. Se essa pessoa possui 3 dependentes ou mais, que aqui são conhecidos como “cargas”, ele é colocado no Grupo B.

 

  • Grupo D: Formado por pessoas com uma renda superior a 240.900 pesos chilenos e se elas possuem 3 dependentes (cargas) ou mais, elas são colocadas no Grupo C. Todos pagam uma porcentagem por cada procedimento realizado.

 

Sobre a Rede Credenciada do Fonasa, são boas no sentido de que muitos médicos particulares atendem pelo sistema público e alguns hospitais particulares também, no entanto, não é a melhor opção. O serviço não é caótico (entenda-se por caótico morrer esperando em filas, locais sujos, descaso), aqui você tem acesso a rede credenciada por cidade e por bairro, e você será atendido; mas uma vez que você paga para usar, eu compartilho da mesma opinião que os chilenos: melhor pagar um pouco mais e estar 100% garantido. Mais detalhes sobre o sistema público você encontra no site da Fonasa.

Se você vem ao Chile apenas de viagem, recomendo a contratação de um Seguro Viagem (aqui tem todas as dicas sobre isso), já que como puderam ver, a saúde pública não é gratuita e um estrangeiro em viagem não se encaixa em nenhum dos grupos mencionados acima, ou seja, se precisar de atendimento vai ter que pagar o valor integral. Com um seguro viagem você pode ser reembolsado. Aliás, o risco de pagar pelo valor integral com saúde, está presente qualquer viagem internacional feita sem seguro.

Sobre a Saúde Privada

Funciona diferente do Brasil também. A primeira coisa é que você precisa informar bem o que deseja pois se disser que quer contratar um plano de saúde, você não será entendido. Precisa dizer que quer contratar uma Isapre – Instituciones de Salud Previsional.

Com a Isapre funciona assim:

  •  Você contrata um plano em alguma empresa, como se fosse Amil, Unimed, etc;
  • 7% da sua renda mensal é descontado, ou seja, sabe aqueles 7% que falei antes da Fonasa? Ao escolher uma Isapre estes 7% vão para ela;
  • Você paga uma porcentagem por cada procedimento utilizado, como expliquei na rede pública. A porcentagem é definida pelas condições do plano escolhido;
  • Você opta por um Seguro Complementario para repor os valores gastos.

What?!

É, eu disse que era complicado explicar mas JURO que estou me esforçando. Vamos imaginar uma cena para ficar mais fácil. Você foi trabalhar na empresa “Funcionário Feliz” (fictícia, claro rsrs). Ao conversar com o RH, ele vai te dizer:

“Oi Fulano, tudo bem? Olha só, gostaríamos de saber se você deseja participar do Fonasa ou se tem ou deseja ter uma Isapre.”

– Então, querido RH, eu prefiro contratar uma Isapre.

“Ah ok, responde o RH. Vou chamar aqui na empresa algumas consultoras de Isapre para você escolher qual é a ideal para você, tudo bem?”

Nesse momento, chega a consultora e apresenta várias empresas, com seus planos de saúde. Independente da empresa (Isapre) escolhida, seu plano vai funcionar sempre dessa forma:

  • Você vai ter uma clínica ou hospital como principal, onde nele já está incluído praticamente tudo: consultas de diferentes especialidades, cirurgias, exames, emergências e etc. Quando você usa a clínica referência discriminada no seu plano, o Isapre cobre praticamente 90% dos gastos e você arca com 10% dos custos (porcentagens fictícias, apenas para exemplificar);

 

  • Quando você opta por usar qualquer outro local da rede credenciada do seu plano, a Isapre vai pagar em torno de 75% dos gastos e os outros 25% ficam por sua conta (porcentagens fictícias, apenas para exemplificar).

 

  • O valor a ser pago para o uso da Isapre varia entre cada empresa e tipo de plano, assim como no Brasil.

 

Ok, mas então o que seria o tal Seguro Complementario? Voltemos a cena do RH para entender melhor. Depois que a consultora explicou tudo e que você definiu qual Isapre vai contratar, o RH te chama de novo.

“É o seguinte, estrangeiro perdido, vou te explicar como tudo vai funcionar agora. Você já contratou a Isapre “Saúde 10” (inventei, ok?), então agora, falta o seguro complementario”.

– Ok, RH organizado, o que seria esse diacho?

“Lembra dos 90% que o Isapre cobre pelos procedimentos que você realiza e que 10% fica por sua conta? Então, se você optar por um dos nossos Seguros Complementarios, você terá praticamente 7% desses 10%, reembolsados. Isso quer dizer que no final das contas, o que você paga para usar a saúde privada, equivale a 3% do valor. Melhorei a sua vida ou não?” (Porcentagens fictícias, apenas para exemplificar).

Resumindo pessoal, se você contrata uma Isapre e já está trabalhando, o Seguro Complementario entra como um benefício oferecido pela empresa para que você pague menos ao ter boa parte do valor reembolsado. Se você não trabalha mas ainda assim deseja ter uma Isapre, a contratação do seguro complementario é opcional mas ele ajuda muito porque com ele você acaba pagando “troco de bala” por um atendimento excelente. Tudo o que você precisar saber sobre o Sistema Isapre, é só clicar aqui.

Melhores Isapres (Planos de Saúde)

As mais conhecidas são: Colmena, Banmédica, Consalud, Cruz Blanca e Vida Tres, sendo a Colmena a melhor do país.

Melhores Clínicas ou Hospitais

Independente da Isapre que você escolher, ela será top se tiver a Clínica Alemana ou a Clínica Santa Maria na rede credenciada. Estas clínicas, especialmente a Alemana, são o Albert Eisten daqui e dentro delas você tem tudo, sem precisar ir para outros lugares. São realmente clínicas TOP, que impressionam pela qualidade no atendimento, tecnologia e etc. A maioria das brasileiras que vêm morar aqui, optam por estas clínicas na hora do parto.

Carências

Existe também para doenças preexistentes. Converse com o seu consultor para mais detalhes.

Confirmação das Digitais

Aqui é simplesmente impossível que alguém se passe por você ao usar o plano de saúde. Isso porque além de apresentar o RG chileno, conhecido como RUT, você precisa colocar o seu dedo em um leitor digital. É ele que confirma quem você é e autoriza o uso do seguro complementario para a realização do pagamento.

Opinião Pessoal

Já usei Fonasa e há 4 anos uso Isapre. Nas duas modalidades, sempre fui muito bem atendida. Um estrangeiro pode achar o sistema de saúde caro apenas porque em todas as opções ele continua pagando (o que no Brasil também acontece, apenas de uma forma diferente) mas eu não acho caro a partir do momento em que funciona. A pior coisa é não pagar com a promessa de que funciona e não poder contar com o sistema de saúde público, que infelizmente no Brasil é um risco muito grande. O sistema público aqui também não é a 8ª maravilha do mundo mas é superior, inclusive, os brasileiros que conheço e que trabalham na rede pública, também afirmam isso. No entanto, uma Isapre realmente dá gosto de pagar e continua sendo a melhor opção. Não sei o que outros que moram aqui pensam mas eu só posso responder por mim.

Bem gente, o assunto é bem complexo e por isso demorou a entrar aqui mas espero ter ajudado. Adianto que não vou poder atender a cada um em suas dúvidas sobre planos de saúde, portanto entrem em contato com os sites indicados para esclarecimentos mais detalhados mas ao menos agora vocês possuem bem mais informações do que eu quando cheguei. Para outras dicas de moradia, clique aqui.

 

 

Fê La Salye
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Comentários

33 comentários em "Morar no Chile – Como é o sistema de Saúde"
  1. Lafer   21/08/15 • 23h38

    Olá Fernanda.
    E o chileno que não trabalha, que não tem renda? Como faz com saúde?

    • Fê La Salye   22/08/15 • 18h06

      Como foi explicado, ele está no Grupo A do Fonasa, ou seja, pessoas que declaram estado de pobreza.

      • Lafer   22/08/15 • 19h35

        Ok. Obrigado.

  2. Carla   22/08/15 • 16h18

    Muito obrigada pela informações!

    • Fê La Salye   22/08/15 • 18h03

      De nada, Carla!

  3. Fábio D'Oliveira   29/09/15 • 16h59

    Concordo! Melhor pagar pouco e ter um atendimento minimamente razoavel do que não pagar nada sob a ilusão que é as mil maravilhas e morrer no corredor numa cama improvisada no chão!

    • Fê La Salye   04/10/15 • 11h42

      Em qualquer lugar do mundo o ideal é sempre estar preparado. Bjs

  4. Israel   25/12/15 • 22h28

    E possível conseguir créditos pra montar um negocio em Santiago, ou seja as burocracias de crédito são iguais às do Brasil? Como o bndes que só concede crédito pra quem não precisa “como alguns empresários ricos” ou é possível conseguir algo desse tipo.

    • Fê La Salye   08/01/16 • 16h24

      Tudo depende do visto, tempo no país, e etc. Recomendo o post sobre o mercado de trabalho chileno.

  5. Danilo Oliveira   16/01/16 • 01h12

    Como fica a área da educação no mercado de trabalho no Chile, mais especificadamente a área de Letras onde pode-se trabalhar o Inglês, o espanhol e porque não, o Português também, escolas de idioma ou profissões públicas nesse caso, é algo que está valendo a pena hoje em dia? porque sabemos que a educação no Brasil não vai nada bem.

    • Fê La Salye   17/01/16 • 21h14

      Oi Danilo, tudo bem? Recomendo que leia o post sobre o mercado de trabalho no Chile. Obrigada!

  6. Voldinei   25/02/16 • 12h39

    Olá, Fernanda, o site abaixo informa que quem contribui com o INSS tem atendimento gratuito, isso é verdade?

    http://www.senge-sc.org.br/v1/ultimas-noticias/456-brasileiro-tem-direito-a-atendimento-medico-gratuito-em-7-paises

    • Fê La Salye   25/02/16 • 12h47

      Na teoria, brasileiros que contribuem com INSS têm atendimento grátis em 7 países, incluindo o Chile mas na prática não funciona assim. Nem todos conseguem porque há várias exigências: não é pra todo tipo de urgência e diagnóstico, dependendo do país precisa legalizar os comprovantes de INSS e etc. Eu viajaria com uma segunda carta na manga.

  7. Carla   02/03/16 • 22h34

    Oi Fernanda, tudo bem? Você conhece o seguro catastrófico? Já usou? Obrigada!

  8. iane elena   06/04/16 • 21h54

    Olá, você poderia me dizer quanto eu pagaria
    desse plano privado, tenho marido e 2 filhos pequenos, pelo menos uma média do que pagaria por mês, obrigada.

    • Fê La Salye   08/04/16 • 12h07

      Impossível ter essa resposta porque é igual no Brasil. Cada faixa etária, tipo de plano, tipo de acomodação, tipo de rede credenciada tem um valor. Desculpe mas realmente nao há uma resposta padrão.

  9. Amanda   14/04/16 • 19h51

    Oii, amei seu Post, mas eu queria tirar uma dúvida. Vou com o meu namorado morar lá no Chile e ele está vinculado a uma empresa. Tem como ele me colocar como dependente de algum plano privado de saúde? Ou somente se fossemos casados?

    • Fê La Salye   21/04/16 • 18h41

      Neste caso o RH da empresa precisa ver se tem como te incluir mas acredito que nao seja possível sem serem casados. Bjs

  10. Roberto Malato   06/07/16 • 14h44

    Oi, muito grato pela tua contribuição! Detalhes ultra relevantes!!! Mas ficou uma dúvida… O desconto de 7% do Fonasa é mantido no Isape??? Não ficou claro pra mim… ficou parecendo que o desconto será de 14%… Ou a lei diz que os 7% são para as duas opções?

    • Fê La Salye   18/07/16 • 18h09

      Oi Roberto, tudo bem? É confuso no início mesmo. Conforme dito no post, descontar 7% para a saúde é lei. Se você opta pelo sistema público, 7% vai para ele. Se escolhe o sistema privado, 7% vai para ele e nao 14%. Obrigada por seguir o blog!

  11. Rodrigo da Silva Carvalho   19/08/16 • 13h11

    Olá, como que está o mercado de TI no Chile? Temos uma empresa de consultoria e gostariamos de investir e ir para o Chile dar andamento nos projetos da empresa, e se caso não venha dar certo, como que poderiamos conseguir emprego na área?

    • Fê La Salye   30/09/16 • 15h16

      Rodrigo, recomendo o post sobre o mercado de trabalho no Chile, tá? Obrigada!

  12. Vall e Mo   16/11/16 • 10h31

    Oi Fê, excelente seu artigo! Uma dúvida: como fica o desconto da FONASA para quem tiver renda, mas não de salário e também não originada no Chile? No nosso caso, estamos pensando em nos aposentar e ir morar aí, mas viveríamos da renda de aluguéis de imóveis e de investimentos financeiros no Brasil. Obrigado desde já, Vall e Mo.

    • Fê La Salye   13/12/16 • 10h35

      Infelizmente nao sei como ficaria porque é um caso muito específico. Teria que pesquisar diretamente com a Fonasa. Boa sorte pra vocês!

  13. Erlani Silva   02/01/17 • 19h03

    Fê, excelente o post, muito esclarecedor. É bem distinto do Brasil mesmo. Obrigada pela ajuda.

  14. Joelice Carvalho   14/01/17 • 18h03

    Estou de mudança para o Chile. Vou me casar com um chileno e so estou preparando documentos que preciso. Posso garantir que suas informações tem me ajudado, e muito. Obrigada!

  15. Leomar Schultz   12/04/17 • 12h37

    Muito bom e esclarecedor!
    Parabéns!

  16. Eli Moraes   28/03/18 • 14h37

    Obrigado pelo post. Muito útil e está bem esclarecido.

  17. Saulo Henrique Selga   01/04/18 • 22h39

    Valeu muito, pensamos em mudar e viver com mais qualidade
    as explanacoes forem nota 10 de verdade.

  18. Luiz Felipe de Almeida Scatamburlo   11/09/19 • 11h50

    Muito obrigado!!

  19. Fernanda   27/01/21 • 20h28

    Fer, muito obrigada! Deu uma boa clareada!

  20. Fernanda   27/01/21 • 20h28

    Fer, muito obrigada pelas informações!

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